RELATÓRIO DE CAMPO DA TRÍPLICE FRONTEIRA
ENTRE FOZ DO IGUAÇÚ-BR, CIUDAD DEL ESTE-PY, PUERTO IGUAZÚ-AR
Alana Soares
Bruno Pontes
Jéssica Bianca
Moisely Prado
Suzy Inoue
Introdução
O trabalho de campo
realizado no dia 07/06/2013 com os alunos do 4º ano do curso de geografia da
Universidade Estadual de Londrina foi orientada pela docente encarregada pela
disciplina de geografia do Brasil profª Drª Márcia Siqueira, na tríplice
fronteira, Foz do Iguaçú-BR, Ciudad Del Este-PY e Puerto Iguazú-AR. O objetivo deste trabalho é
por em prática o conteúdo teórico das aulas e do pré-campo, identificando as
relações econômicas e sociais envolvendo a tríplice fronteira, e as ações
políticas, administrativas relacionadas à formação do território.
Primeiramente
apresentaremos o roteiro do trabalho de campo, em seguida pontos conceituais juntamente
com aspectos históricos relacionados com o oeste Paranaense e os resultados
obtidos com as observações realizadas nos locais descritos na tabela a baixo. O
roteiro do trabalho de campo foi realizado da seguinte forma:
Dia
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Horário
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Local
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OBS
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07/06/2013
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6h15min
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saída
de Londrina
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13h13min
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Cascavel
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Parada
para almoço
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15h37min
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Foz
do Iguaçu
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Parque
das Cataratas
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18h40min
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Foz
do Iguaçu
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Saída
do parque das Cataratas
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08/06/2013
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7h31min
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Foz
do Iguaçu
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saída
do hotel
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9h38min
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Foz
do Iguaçu
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Usina
Hidrelétrica de Itaipu
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11h 15min
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Paraguai
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Museu
de la Tierra Guarani
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09/06/2013
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8h30min
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Argentina
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Rumo
ao Puerto Iguazu
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12h15min
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Argentina
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saída
da Argentina, rumo ao hotel
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14h15min
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Foz
do Iguaçu
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saída
do hotel
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23h
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Londrina
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chegada
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Estudar
o espaço geográfico vai além de suas categorias de análise, envolve também a
geopolítica mundial. Cada nação encontra-se em áreas que estão sob seu domínio, o que se configura no território do estado
nação. Segundo (Santos, 1994) com o processo de globalização este espaço esta além
das fronteiras territoriais, onde o território estático e nacional passou para
a noção de território transnacional, mundial global.
Um dos principais fatores para que o território ultrapasse as fronteiras legais
de uma nação foi à multipolarização pós-segunda
guerra mundial, e o avanço do meio técnico cientifico informacional, que
propiciou uma interação mais eficaz nas relações socioeconômicas entre os
países.
Foi para cuidar deste espaço que no império lançou-se uma
comitiva com um conjunto de ações para estabelecer no oeste paranaense mais
especificamente na tríplice fronteira o domínio sobre o território nacional. As
riquezas naturais brasileiras estavam sendo explorados de forma ilegal pelos
vizinhos platinos os quais também eram os principais consumidores.
A área de fronteira
sempre foi vinculada a conflitos, devido os intercâmbios de pessoas e produtos
que entram ilegalmente no território vizinho, não respeitando os limites
jurídicos e políticos correlacionados a fronteira de uma nação para outra. Para
(Santos, 1994), o funcionamento do território ocorre através das
horizontalidades, ou seja, lugares vizinhos reunidos por uma continuidade
territorial, motivo pelo qual o território é formado por lugares contíguos e de
lugares em rede. Na concepção de Andrade, “o território está associado à ideia
de poder, de controle, quer se faça referência ao poder público, estatal, que
dão poder das grandes empresas que estendem os seus tentáculos por grandes
áreas territoriais, ignorando as fronteiras políticas”. (ANDRADE, 1995, p. 19).
O território
paranaense passou a ser tratado de maneira enfatizada na política administrativa,
devido à necessidade de delimitar suas fronteiras de maneira política e
jurídica para que o espaço nacional fosse respeitado e protegido de exploração
externa. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação
conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer
nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta e abstratamente. [...] o ator
“territorializa” o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p. 143).
O espaço em questão a região oeste do Paraná mais
especificamente de Foz do Iguaçu, que apresentava riquezas naturais além da
madeira e erva mate a presença de paisagens com potencial turístico para a
região como as cataratas do Iguaçu, que despertou o interesse da elite
brasileira, (Souza, 2001) Salienta que o território é um espaço definido e
delimitado por e a partir de relações de poder, e que o poder não se restringe
ao estado e não se confunde com violência e dominação. Assim o conceito de
território deve abarcar mais que o território do estado-nação. No caso o poder
exercido pelo Brasil estava na ligação dos países platinos ao porto de
Paranaguá através das rodovias que ligam o estado paranaense da porção
oeste-leste, assim como a fiscalização da entrada e saída de pessoas e
mercadorias na fronteira Brasil, Paraguai, Argentina.
Introdução Histórica
do Oeste do Paraná
As missões na região de Guairá eram pautadas
no âmbito evangelizador jesuítico, o qual consiste na conversão dos povos
guarani a religião católica, na tentativa de erradicar as práticas culturais
tidas como selvagens e a introdução do indígena na fé católica.
A proposta missionária
objetivava a inserção dos povos nativos no modelo de sociedade civil e cristã
europeia, do colonialismo luso-espanhol, que promoveu atritos territoriais e
interétnicos, adotando a estratégia política da segregação étnica dos Guarani
(SCHALLENBERGER, 1997).
Houve assim no decorrer do processo histórico,
uma mistura cultural, apropriando práticas ibéricas à cultura nativa mesclando
a cultura guarani com a cristã onde promoveu uma reorganização das práticas
sociais e culturais do povo guarani.
Segundo
Soares (2012), as missões enquanto fronteira, “não tratam de ‘reduzir’ os
índios, de aprisioná-los, mas de ‘reconduzir’. Eles são ‘devolvidos’ à fé
cristã e à vida policiada.” (HAUBERT, 1990, p. 15). Aqui a proposta
evangelizadora se une à civilizatória e as esferas privilegiadas para esta
transformação sociocultural são as esferas do trabalho e da religião, posto que
aquela se deu no antigo espaço historicamente produzido e vivido pelos
guaranis. Segundo a historiografia corrente, as missões eram instituições de
fronteira (BOXER, 2007; FLORES, 1983, KERN, 1982 e SCHALLENBERGER, 2010, apud SOARES
2012). As missões desenvolvidas na fronteira tinham dimensão além do espaço
físico do oeste do Paraná, pois envolviam o limiar entre as sociedades da coroa
europeia e do nativo. Soares (2012, p,38).
Segundo
Roseira (2006), Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai têm seus conflitos de
longa data, e após o termino da guerra do Paraguai foi essencial à instalação
da colônia militar brasileira nesta região de fronteira devido às questões
territoriais, tensões que envolvem um jogo de poder sobre o território da
tríplice fronteira em função da hegemonia do estado. Motivo que fez da área guarani
uma região de conflitos acirrados a partir do final do século XIX até meados da
década de 1980, onde a principal ideologia era o domínio e controle da região
pelos países constituintes da tríplice fronteira.
É
importante ressaltar que no momento histórico de 1888, as autoridades
brasileiras perceberam as condições de abandono nos arredores da fronteira e
estabeleceram ações como a colônia militar do Iguaçu. A atividade na época era o corte de madeira
e o cultivo de erva-mate na fronteira e em partes dos dois países. Em 1889 foi
fundada a Colônia Militar de Iguassu, devido ao posicionamento privilegiado da
região. A preocupação já no regime monárquico embora tenha sido instalada de
fato no regime republicana no início do séc. XX era de ocupá-la militarmente
visando garantia de posse. (Yokoo,2002.p.210)
Um
dos objetivos da colônia militar era de controlar os fluxos para que o Brasil
não perdesse suas riquezas naturais com as vendas ilegais, mas o difícil acesso
a Foz por terra e a falta de estrutura para navegação no rio Paraná agravaram a
dificuldade da realização da fiscalização. Era o binômio mate-madeira que
acentuava o tráfico, prejudicando o Estado Paranaense em se destacar na
economia primário-exportadora.
Outro
objetivo era a nacionalização da área, pois o idioma e a moeda também eram
obstáculos na fronteira. Por essas dificuldades o processo de povoamento de Foz
de Iguaçu foi bastante lento, em 1905 a maioria ainda eram os estrangeiros.
Devido
a essas dificuldades o Brasil, mais especificamente o governo federal junto ao
governo do estado do Paraná, teve a iniciativa de manter o domínio sobre as
fronteiras e a ampliação do espaço paranaense da região com o estabelecimento
de um espaço social e povoando para que mais tarde surgissem a partir dos
pequenos núcleos as cidades Toledo e Cascavel, e as demais cidades que se desenvolveram
na região oeste, que era de base econômica vinda da agricultura, ocupação
principalmente feita pelos gaúchos.
Exceto
foz do Iguaçu que tem sua força motriz econômica voltado ao turismo, Segundo
Roseira (2006), existem duas formas de turismo nesta região de fronteira que
são, turismo ilegal, com as compras
realizadas no Paraguai; e o turismo bem
estruturado dentro do território nacional como as cataratas e a hidrelétrica de
Itaipu que se tornou um ponto turístico também no inicio da década de 1980.
É com estes dois pontos fortes que surgem pequenas atividades turísticas
secundarias. A maioria dos turistas que visitam Itaipu provém da Argentina. O
número de turistas que visitam as Cataratas é muito maior que o grupo de
pessoas que visitam Itaipu, logo o turismo para as Cataratas é o que impulsiona
a economia da cidade de foz do Iguaçu.
Para que ocorresse o povoamento e integração territorial do Oeste
Paranaense o Estado adotou algumas medidas. A primeira etapa foi a criação de Territórios Federais, objetivada a
por em mãos áreas territoriais consideradas chaves ao desenvolvimento nacional.
Segundo
Wachowicz (2010), em 1943 foi criado o Território Federal do Iguaçu,
compreendendo o oeste e sudoeste do Paraná, e toda a porção leste de Santa
Catarina. O Governo criou regras e decretos para colonização de terras no
interior do território federal. O primeiro empreendimento que realmente obteve
sucesso na colonização do Oeste do Paraná foi da indústria Madeireira
Colonizadora Paraná S.A. Em 1951 quase todas as terras demarcadas nas
propriedades ofertadas pela Maripá, foram vendidas ou compromissadas. Outras
duas grandes obras foram construídas: rodovia BR-277 (ligação de Assunção ao
Porto de Paranaguá) e Ponte da Amizade (Ligação Brasil e Paraguai).
Geopolítica
adotado no Oeste Paranaense a partir de 1950, baseou-se em estratégias
territoriais, que foram a criação do Porto de Paranaguá, Br-277 e a Ponte de
Amizade. Os efeitos dessas obras citadas fez com que o Oeste Paranaense
ampliasse seu processo de expansão populacional e crescimento da economia.
A
construção da Hidroelétrica de Itaipu criou uma dinâmica interna própria, caracterizando-se
em diferentes escalas. Poucas cidades paranaenses cresceram como Foz do Iguaçu.
A construção do Itaipu atraiu um grande contingente populacional. Onde leva de
trabalhadores de várias regiões do Brasil emigraram para a cidade devido às novas
possibilidades de trabalho.(ROSEIRA,2006).
Criação da Zona
Franca de Ciudad del Este – Resultados das Análises de Campo
Ciudad
del Este criada em 1957 no extremo Leste do Paraguai, foi fundada para receber
a rodovia
que o governo paraguai e o governo brasileiro estavam construindo para a
ligação da região central do pais a costa atlântica brasileira. A cidade com um
crescimento tímido até então começa a passar por uma grande transformação a
partir da construção da Ponte da Amizade em 1965 e com a abertura do Governo
paraguaio às importações.
Apesar das grandes
transformações da cidade terem se desencadeado somente após a construção da
ponte, segundo Rabossi (2004) em 1960 já havia-se firmado a primeira concessão
da Zona Franca da Ciudad del Este, através de um convenio entre a Comissão de Administração de Puerto Presidente Stroessner (antigo nome
da cidade) e Foreign Markets Trading Corporation, aprovada anos mais tarde
através da Lei 237 de 1971, ratificada como Zona Franca Internacional. Porem outros
autores como Kleinke et. al., (1996) afirmam que a Zona Franca só foi criada em
1980, quando ela passa a ser um importante polo comercial no cenário
internacional.
A inauguração da ponte ligando Foz do Iguaçu e Ciudad del Este foi um
marco para o desenvolvimento das duas cidades principalmente para comercio na
região. Nas duas extremidades da ponte passaram-se a aglomerar atividades
comerciais especificas de cada país. No lado brasileiro iniciaram-se as lojas
de produtos nacionais que aos poucos substituíram produtos argentinos no
mercado interno paraguaio; e no lado paraguaio, comercio de artigos importados
e de artigos típicos do Paraguai. (RABOSSI, 2004)
Os altos impostos sobre produtos importados no Brasil e na Argentina e a
comercialização de produtos importados a baixo custo na cidade paraguaia,
segundo Rabossi (2004), se tornaram rapidamente a principal atratividade
comercial para brasileiros, argentinos e turistas
do outro lado da fronteira.
A intensa demanda
do centro comercial nas imediações da ponte com estabelecimentos
comerciais como galerias, shoppings e postos de venda nas ruas, rapidamente se
transforma em um polo de concentração de muitos imigrantes de todas as partes
do mundo, mas principalmente árabes e mulçumanos que vem no comercio uma
oportunidade para um novo meio de sobrevivência longe do seu país de origem.
(RABOSSI, 2007)
A
chegada dos primeiros imigrantes árabes está relacionada com esse comercio
inicialmente na cidade de Foz do Iguaçu, nas quais possuíram um papel
importante no crescimento do ramo. A maioria dos imigrantes que se
estabeleceram nessa região tinha parentes ou conhecidos de referencia, outros
aprenderam a arte mascatear com os próprios patrícios. Muitos deles também
estavam fugindo de uma guerra civil no seu país, e a partir do momento que
começam a ganhar espaço na tríplice fronteira, passam a fazer parte e a fundar
Clubes nesse território, como o Clube da União Árabe, em 1962. (RABOSSI,
2007)
O
autor supracitado ainda menciona que o comercio os proporcionava um retorno
rápido e permitia vislumbrar um caminho para poder acumular e investir em novas
possibilidades. A partir da inauguração da ponte os imigrantes estabelecidos em
Foz do Iguaçu abrem suas lojas e importadoras na emergente cidade paraguaia,
com as expectativas voltadas a um fluxo de produtos diferentes e orientado a
outro publico.
Juntamente com esse
cenário e com a vinda de muitos imigrantes para essa região, apareceram os primeiros vendedores de rua e
outras pessoas que começaram a ganhar a vida na infraestrutura do movimento que
crescia desde então, contribuindo para o inicio do circuito inferior
conceituado por Santos (1978).
Outros fatores que contribuíram para a
criação da Zona Franca foram a construção da Usina Binacional de Itaipu, bem como as numerosas transportadoras que transformaram
Foz do Iguaçu em um dos mais importantes entrepostos de produtos brasileiros
para exportação, e no lado paraguaio, a oferta de importados passando a ser
ainda maior, com o estabelecimento de muitos representantes de firmas
internacionais. (RABOSSI, 2004)
A ajuda que o governo paraguaio deu a cidade quando eliminou
as tarifas externas de importação, diminuiu os impostos às importações e não
implementou uma politica de desenvolvimento industrial baseada
em um modelo de substituições de importação no país (RABOSSI, 2007), até
os dias de hoje mostra sua força consolidada no setor comercial.
Com a crescente
aglomeração de vendedores de ruas, laranjas e cambistas, desenvolveu-se a maior
característica comercial de Ciudad del Este atualmente, a evidente disputa por
um espaço onde as vendas pudessem ser realizadas nas ruas da cidade (KLEINKE, et. al., 1996) e caracterizando um grande comercio
informal, que segundo Santos (1978) constitui o subemprego, o não emprego e a
terceirização.
Neste complexo
cenário que se emergiu e se consolidou uma das maiores zonas franca da
atualidade. Onde nenhuma ação do poder municipal conseguiu impor regras que
realmente dessem conta de organizar tal espaço, tanto é que as autoridades
passaram com o tempo a aceitar o comercio de rua mesmo não sendo o que se
tentou estabelecer no regulamento municipal. (RABOSSI, 2004)
Atualmente toda a
dinâmica da Zona Franca estabelecida na Ciudad del Este contribui para a
economia da tríplice fronteira. Foz do Iguaçu-BR, através de seus atrativos
turísticos como o Parque Nacional de Iguaçu e o Parque Tecnológico de Itaipu e
Puerto Iguazú-AR, com a presença de feiras de produtos típicos e a ampla oferta
de produtos importados e de grifes no estabelecimento comercial da DutyFree.
As especificidades do
comercio de cada lado da fronteira faz com que cada cidade tenha exclusivamente
seu publico, uma forma de compensação aos turistas que ali depositam seu tempo
e dinheiro, pois mais atrativo do que os preços baixos sejam em produtos
importados, falsificados ou típicos, é a proximidade entre as três cidades que
se complementam para manter essa zona comercial.
Apesar de para o
capital o cenário se configurar em um verdadeiro paraíso, para quem depende
desse complexo sistema para sobreviver todos os dias vive um verdadeiro caos,
observado em campo, em meio à falta de infraestrutura, à grande quantidade de
lixo e dejetos na rua, ao mau cheiro nas vias onde há a maior concentração do
comercio, ao transito caótico, à poluição sonora e visual em alta intensidade,
à falta de segurança e ao trafico dos mais variados tipos.
A Ciudad Del Este efetivamente é caracterizada
pelo grande fluxo comercial, marcado pelas rugosidades do local. A concentração
comercial é predominantemente marcada próximo a fronteira com o Brasil, onde
este comercio vai desde os vendedores ambulantes, mesiteiros que vendem
produtos falsificados, até alto shoppings de luxo como o Monalisa. Na entrada
do país esta presente o mapa da Cuidad Del Este, este serve para os turistas
terem uma melhor visualização, podendo se localizar na cidade.
Figura 1: Mapa da Cuidad Del Este
Fonte: Jessica Bianca dos Santos
O
que percebemos na cidade é um falho sistema de fronteira, arraigado a um
descontrole da entrada e saída de mercadoria e veículos. Porém, no dia visitado
havia a presença do exército nas ruas, isto por causa do grande número de
assaltos e mortes ocorrida na fronteira, entretanto,
sua presença era para a segurança dos indivíduos, e não para o controle de
mercadorias. Há também uma despreparo na infraestrutura, pois o local não tem
suporte para receber tanto turista como recebe, pois há uma baixa
infraestrutura arraigado a um grande fluxo de pessoas.
A
Ciudad Del Este se configura visivelmente em um espaço que obedece, uma lógica
vertical, e cujo poder local é enfraquecido pelos movimentos do comercio, já
que este está diretamente ligado ao contrabando, ao trafico de drogas, armas e
crianças, onde o poder local não tem o controle comercial sobre esse espaço,
sendo as leis que se adaptam ao comercio.
A
quadra analisada (Figura 2 - Quadra 3) é marcada entre o meio e o fim do centro
comercial. Predomina-se o comercio varejista, mesiteiros e vendedores
ambulantes, não havendo, portanto, a presença de shoppings. Nesta quadra há
presença de uma praça onde é concentrada em sua maioria os vendedores
ambulantes. Por ser uma praça não há grande quantidade de arvores, elas também estão presente (em pouca quantidade) na
calçada entre os mesiteiros (Figura 2).
Figura 2: Quadra 3
Fonte: Jessica Bianca dos Santos
O
que mais nos chamou a atenção foi o cheiro forte de urina nas ruas, fazendo-nos
questionar sobre a existência de rede de esgoto na cidade, mas esta rede
existente, pois como seria se todo o esgoto domiciliar e comercial ficasse
destinado as ruas. Não há presença de hidrante e lixeiras, há muita presença de
lixos nas ruas principalmente concentrados nos canais fluviais, assim pensamos
a dificuldade do escoamento de água nos dia de chuva, já que as galerias estão
encobertas de lixo.
Figura 3: presença de lixo nas galerias pluviais
Fonte: Jessica Bianca dos
Santos
Com
a grande presença de veículos e comercio, tivemos dificuldade de identificar o
final de cada quadra, não sendo algumas delimitada por paralelepípedo. Na
quadra presenciamos um grande fluxo de pessoas, isto porque em frente há
presença de um terminal rodoviário, onde principalmente os moradores utilizam
para se locomover na cidade.
O
comercio presente em cada país é desigual, na parte paraguaia fica evidente um
comercio expressamente fluido, com grande numero de turistas; na parte brasileira
há pouca fluidez, sendo quase inexistente, não possui variedade de produtos
como no Paraguaio, sendo mais viável aos visitantes atravessar a fronteira,
onde encontra mercadoria a baixo preço e por causa do grande numero de lojas
comerciais o produto é negociável e barateado.
Para
compreender e analisar a tríplice fronteira faz-se necessário ter consciência
de como o território é usado. O uso do território entre as três cidades estão
articulados através de um mercado fluido e turistas, porem apresenta papeis
diferentes, o Paraguaio faz de seu território um centro comercial, Foz do
Iguaçu um local de hospedaria dos turistas oferecendo também atrativos
turísticos.
Mesmo
os três países pertencentes e fundadores do bloco econômico MERCOSUL, agora não
mais o Paraguaio, apresentarem características muito distintas em relação a
cultura com mistura de nacionalidades, a política, como o caso do Paraguai, são
as leis que se adaptam ao comercio, a economia diferentemente distintas na
tríplice fronteira, o uso dos territórios, etc.
Quando
pensamos a importância das cidades da tríplice fronteira para aquele
território, percebemos uma forte estrutura diversificada que possuem; o
Paraguaio não possui uma boa infraestrutura para receber turistas, mas possui
um mercado atrativo; a cidade de Foz do Iguaçu tem todo um suporte de
infraestrutura, hotéis luxuosos, restaurantes, supermercados e FastFoods, além
de atrativos turísticos como as Cataratas e o Parque Nacional do Iguaçu,
contribuindo para que a tríplice fronteira seja um local atrativo para os
turistas.
Percebe-se
também que a relação entre Brasil e Argentina é estável, mesmo tendo um alto
controle de sua fronteira. A entrada no
país é controlada tendo o nome notificado na alfândega. Também apresenta um
mercado variado com produtos artesanais típicos, com preços acessível; além da
Duty Free, que apresenta uma grande variedade de produtos originais, como
bebidas, varejo, produtos de beleza; sendo os preços dos produtos não tão
acessível a todas as classes.
O
que mais nos chamou a atenção na Argentina foi o controle da fronteira e
organização do território, totalmente diferente da Cuidad Del Este, o rigor de
fiscalização e o suporte em infraestrutura é visível,
principalmente no Duty Free, onde somente é permitida a entrada na loja sem os
pertences individuais, eles são colocados dentro de um armário de segurança e
retirados quando sair da loja. Também é dado uma bolsa na entrada para colocar
os pertence que vão ser levado no interior da loja, como a chave do armário.
A
tríplice fronteira representa para a região um grande fluxo de mercadorias e
pessoas, tendo grande importância para as cidades, porem quando pensamos a
importância destas cidades para o país não é tão relevante. Por exemplo, Foz do
Iguaçu para a tríplice fronteira é um local turístico que recebe pessoas de
todas as partes do mundo, porém para o Brasil e para o Paraná não tem grande
importância comercial.
Cabe
lembrar a importância que Santos (1977) dá ao processo histórico, tanto Ciudad
Del Este quanto Foz do Iguaçu possui heranças históricas de povoamento que se
repercutem ate hoje no território.
Muitos
trabalhadores não são paraguaios, alguns são árabes, turcos, brasileiros, que
nos faz levantar algumas considerações acerca da identidade dessas pessoas.
Também pensar o que Santos (1977) considera território a partir do momento que
este é usado, quando há interligação com as redes e nós, sendo estes os meios
que consolida a fluidez do território, presente na tríplice fronteira.
Conclusões
A Tríplice Fronteira tratasse de três
territórios pertencentes a Estados diferentes, Brasil, Argentina e Paraguai,
onde seus povos podem circular de um país para o outro conforme critérios de
cada um deles, por exemplo, para que um cidadão brasileiro entre no Paraguai
não é necessário que ele informe que está indo para este país, entretanto se
este mesmo cidadão pretende ir para Argentina este deve se identificar na
entrada e na saída, pois caso entre e não sai este ficara como ilegal no país.
Na Tríplice Fronteira podemos ver a questão
de pertencimento com relação ao seu território e ao seu país, isto fica muito
claro quando vemos as divisas de Brasil e Argentina na Ponte da Fraternidade, o
lado da ponte que pertence ao Brasil é pintado pelas cores verde e amarela e o
lago argentino com as cores azul e branca, cores de ambas as bandeiras.
Podemos ver neste espaço diferentes tipos de
uso do território conforme os momentos históricos. Quando falamos que Foz do
Iguaçu (Brasil) se vê uma cidade que tem sua economia pautada em atividades
comerciais, mais precisamente no turismo gerado pelas Cataratas do Iguaçu, pela
Hidroelétrica de Itaipu e pelo comercio realizado na fronteira.
O turismo realizado nestes dois pontos segue
os padrões internacionais, o realizado na Usina Hidroelétrica de Itaipu teve
inicio na década de 1980 sendo seu maior publico turistas vindos da Argentina,
com relação ao turismo realizado nas Cataratas do Iguaçu este recebe um grupo
muito maior de pessoas sendo este o que realmente impulsiona a economia do
município e o que o torna a sexta cidade mais importante no turismo nacional no
quesito de receber pessoas, com estes dois pontos turístico não só eles lucram,
mas o setor hoteleiro, gastronômico, as agencia de turismo e eventos também.
Quando nos referimos a Puerto Iguazú
(Argentina) vemos dentro da mesma cidade dois seguimentos da economia comercial
o turismo proporcionado pelo lado argentino das cataratas e o comercio
realizado nas feiras e o realizado no Shopping Center. Quando falamos nos
comercio realizado nas feiras de Puerto Iguazú tratasse da comercialização de
produtos típicos da argentina e produzidos na própria cidade como é o caso das
azeitonas, vinhos, produtos de couro, chocolates, azeites e o artesanato local,
ao que se refere ao Shopping Center, mas precisamente o Duty Free na entrada do
país vemos produtos originais importados de outros países, europeus e
estadunidenses, onde temos estes produtos separados por categorias e expostos
de forma que agreguem valor ao produto, tratasse mais de uma loja de
departamentos do que um Shopping Center.
É possível ver no caso de Puerto Iguazú a
presença dos circuitos inferiores e superiores da economia urbana, nas feiras
fica claro a presenta do circuito inferior com a produção artesanal com baixo
emprego de mão de obra, um comercio local com a presença de diversos produtos
porem com baixos estoques. Por outro lado quando vimos a Duty Free conseguimos
enxergar o circuito superior onde encontramos a alta tecnologia importada, um
padrão de exposição de produtos, a facilidade de comercialização não utilizando
mais o dinheiro em espécie, mas também cartões de créditos ou de debito que
estão ligados a um banco que necessariamente não está próximo.
Referente à Ciudad del Este (Paraguai)
tratasse da segunda maior cidade deste país em termos econômicos e demográficos
mesmo sendo uma cidade relativamente nova, fundada em 1957, porem foi somente
com a inauguração da Ponte da Amizade (1965) que duas áreas comerciais se
desenvolveram, uma no Brasil e outra no Paraguai, fazendo portanto com que o
crescimento nesta região ocorresse. Os árabes dentro deste contexto tem grande
importância no desenvolvimento do comercio, pois são eles com a inauguração da
ponte foram os primeiros a instalarem seus comércios em Ciudad del Este.
Atualmente devido ao crescimento econômico
vinculado ao movimento comercial de produtos importados de diversos lugares,
Ciudad del Este, é considerado um dos centros comerciais regionais da América
Latina. Tratasse de um mercado composto por imigrantes internos e externos que
possuem seu próprio comercio ou são vendedores, cambistas ou transportadores de
mercadorias que atendem o mercado de fronteira que possui consumidores de
diversos lugares.
Devido a estas circunstâncias Ciudad del Este
é um local que recebe destaque nos meios de comunicação e do próprios governos
que fazem fronteira com Paraguai ou não, por se tratar de uma área de comercio
a Tríplice Fronteira é um espaço onde concentrasse trabalhadores que do
comercio tiram seu sustento porem é um espaço que concentra todos os problemas
de segurança contemporâneos, terrorismo, máfias transnacionais, pirataria,
contrabando, lavagem de dinheiro, artigos roubados, narcotráfico, trafico de
armas, órgãos, prostituição entre outros. Sendo este um espaço após os
atentados de 11 de setembro de 2001 um local de preocupação dos órgãos de
segurança, principalmente os norte americanos, pois é nesta região onde há a
maior colônia de árabes fora do Oriente Médio.
Com a realização do campo podemos ver clareza
o tudo o que foi lido, ao ir em Ciudad del Este conseguimos ver o turista que
faz longas viagens para consumir produtos importados com menos impostos, vemos
o turista que compra produtos para revender em suas cidades, vemos também os
vendedores de rua que abordam as pessoas que estão andado para vender seus
produtos de baixa qualidade, conseguimos ver também a apropriação das ruas com
o vendedores que armam suas barracas no meio das calçada dificultando a
circulação, foi possível ver em um determinado momento em que caminhávamos pela
cidade artigos roubados como carros circulando sem placas e com relatos de
colegas de campo podemos ver a existência do trafico de drogas, armas e
prostituição, pode se colocar aqui também a presença forte de comerciantes
árabes que tem um espaço considerável dentro da cidade.
Entretanto ao mesmo tempo em que vemos isto
nas ruas a cidade possui um Shopping Center chamado Monalisa onde vende artigos
importados originais de outros países que lembra muito o DutyFree da Argentina,
que oferece ao consumidor uma garantia do produto que esta consumindo e também
oferece ao mesmo segurança pois é um local mais reservado onde há presença de
segurança e câmeras entretanto esse amais está agregado ao valor do produto.
Quando se trata de Ciudad del Este
conseguimos o uso do território em função do comercio desde a inauguração da
Ponte da Amizade e que ao longo do tempo vêm sendo intensificado, entretanto
devesse lembrar que não é cidade inteira que sofre esse processo mas sim a área
que esta nas proximidades da ponte. Podemos ver também nesta área concentrada o
circuito superior da economia urbana, pois nas ruas conseguimos ver um
subemprego e o não emprego, vemos também um comercio desorganizado com
estrutura precária e poluição das ruas, entretanto vemos dentro da mesma área a
presença do circuito superior ao nos deparamos com lojas de departamento que
vende a mais alta tecnologia e os novos lançamentos das multinacionais, vemos
que estes produtos são importados e não produzidos ali mesmo e conseguimos ver
a possibilidade do crédito para compras, como vimos no DutyFree.
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