sábado, 29 de junho de 2013

RELATÓRIO DE CAMPO DA TRÍPLICE FRONTEIRA ENTRE FOZ DO IGUAÇÚ-BR, CIUDAD DEL ESTE-PY, PUERTO IGUAZÚ-AR

Alana Soares
Bruno Pontes
Jéssica Bianca
Moisely Prado
Suzy Inoue
Introdução
                           O trabalho de campo realizado no dia 07/06/2013 com os alunos do 4º ano do curso de geografia da Universidade Estadual de Londrina foi orientada pela docente encarregada pela disciplina de geografia do Brasil profª Drª Márcia Siqueira, na tríplice fronteira, Foz do Iguaçú-BR, Ciudad Del Este-PY e Puerto Iguazú-AR. O objetivo deste trabalho é por em prática o conteúdo teórico das aulas e do pré-campo, identificando as relações econômicas e sociais envolvendo a tríplice fronteira, e as ações políticas, administrativas relacionadas à formação do território.
Primeiramente apresentaremos o roteiro do trabalho de campo, em seguida pontos conceituais juntamente com aspectos históricos relacionados com o oeste Paranaense e os resultados obtidos com as observações realizadas nos locais descritos na tabela a baixo. O roteiro do trabalho de campo foi realizado da seguinte forma:
Dia
Horário
Local
OBS
07/06/2013
  6h15min
saída de Londrina
  13h13min
Cascavel
Parada para almoço
  15h37min
Foz do Iguaçu
Parque das Cataratas
  18h40min
Foz do Iguaçu
Saída do parque das Cataratas




08/06/2013
  7h31min
Foz do Iguaçu
saída do hotel
  9h38min
Foz do Iguaçu
Usina Hidrelétrica de Itaipu
  11h 15min
Paraguai
Museu de la Tierra Guarani
09/06/2013
  8h30min
Argentina
Rumo ao Puerto Iguazu
  12h15min
Argentina
saída da Argentina,  rumo ao hotel
  14h15min
Foz do Iguaçu
saída do hotel
  23h
Londrina
chegada

                          Estudar o espaço geográfico vai além de suas categorias de análise, envolve também a geopolítica mundial. Cada nação encontra-se em áreas que estão sob seu domínio, o que se configura no território do estado nação. Segundo (Santos, 1994) com o processo de globalização este espaço esta além das fronteiras territoriais, onde o território estático e nacional passou para a noção de território transnacional, mundial global. Um dos principais fatores para que o território ultrapasse as fronteiras legais de uma nação foi à multipolarização pós-segunda guerra mundial, e o avanço do meio técnico cientifico informacional, que propiciou uma interação mais eficaz nas relações socioeconômicas entre os países.
Foi para cuidar deste espaço que no império lançou-se uma comitiva com um conjunto de ações para estabelecer no oeste paranaense mais especificamente na tríplice fronteira o domínio sobre o território nacional. As riquezas naturais brasileiras estavam sendo explorados de forma ilegal pelos vizinhos platinos os quais também eram os principais consumidores.
                            A área de fronteira sempre foi vinculada a conflitos, devido os intercâmbios de pessoas e produtos que entram ilegalmente no território vizinho, não respeitando os limites jurídicos e políticos correlacionados a fronteira de uma nação para outra. Para (Santos, 1994), o funcionamento do território ocorre através das horizontalidades, ou seja, lugares vizinhos reunidos por uma continuidade territorial, motivo pelo qual o território é formado por lugares contíguos e de lugares em rede. Na concepção de Andrade, “o território está associado à ideia de poder, de controle, quer se faça referência ao poder público, estatal, que dão poder das grandes empresas que estendem os seus tentáculos por grandes áreas territoriais, ignorando as fronteiras políticas”. (ANDRADE, 1995, p. 19).
                             O território paranaense passou a ser tratado de maneira enfatizada na política administrativa, devido à necessidade de delimitar suas fronteiras de maneira política e jurídica para que o espaço nacional fosse respeitado e protegido de exploração externa. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta e abstratamente. [...] o ator “territorializa” o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p. 143).
O espaço em questão a região oeste do Paraná mais especificamente de Foz do Iguaçu, que apresentava riquezas naturais além da madeira e erva mate a presença de paisagens com potencial turístico para a região como as cataratas do Iguaçu, que despertou o interesse da elite brasileira, (Souza, 2001) Salienta que o território é um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder, e que o poder não se restringe ao estado e não se confunde com violência e dominação. Assim o conceito de território deve abarcar mais que o território do estado-nação. No caso o poder exercido pelo Brasil estava na ligação dos países platinos ao porto de Paranaguá através das rodovias que ligam o estado paranaense da porção oeste-leste, assim como a fiscalização da entrada e saída de pessoas e mercadorias na fronteira Brasil, Paraguai, Argentina.


Introdução Histórica do Oeste do Paraná
As missões na região de Guairá eram pautadas no âmbito evangelizador jesuítico, o qual consiste na conversão dos povos guarani a religião católica, na tentativa de erradicar as práticas culturais tidas como selvagens e a introdução do indígena na fé católica.
A proposta missionária objetivava a inserção dos povos nativos no modelo de sociedade civil e cristã europeia, do colonialismo luso-espanhol, que promoveu atritos territoriais e interétnicos, adotando a estratégia política da segregação étnica dos Guarani (SCHALLENBERGER, 1997).
 Houve assim no decorrer do processo histórico, uma mistura cultural, apropriando práticas ibéricas à cultura nativa mesclando a cultura guarani com a cristã onde promoveu uma reorganização das práticas sociais e culturais do povo guarani.
Segundo Soares (2012), as missões enquanto fronteira, “não tratam de ‘reduzir’ os índios, de aprisioná-los, mas de ‘reconduzir’. Eles são ‘devolvidos’ à fé cristã e à vida policiada.” (HAUBERT, 1990, p. 15). Aqui a proposta evangelizadora se une à civilizatória e as esferas privilegiadas para esta transformação sociocultural são as esferas do trabalho e da religião, posto que aquela se deu no antigo espaço historicamente produzido e vivido pelos guaranis. Segundo a historiografia corrente, as missões eram instituições de fronteira (BOXER, 2007; FLORES, 1983, KERN, 1982 e SCHALLENBERGER, 2010, apud SOARES 2012). As missões desenvolvidas na fronteira tinham dimensão além do espaço físico do oeste do Paraná, pois envolviam o limiar entre as sociedades da coroa europeia e do nativo. Soares (2012, p,38).
Segundo Roseira (2006), Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai têm seus conflitos de longa data, e após o termino da guerra do Paraguai foi essencial à instalação da colônia militar brasileira nesta região de fronteira devido às questões territoriais, tensões que envolvem um jogo de poder sobre o território da tríplice fronteira em função da hegemonia do estado. Motivo que fez da área guarani uma região de conflitos acirrados a partir do final do século XIX até meados da década de 1980, onde a principal ideologia era o domínio e controle da região pelos países constituintes da tríplice fronteira.
É importante ressaltar que no momento histórico de 1888, as autoridades brasileiras perceberam as condições de abandono nos arredores da fronteira e estabeleceram ações como a colônia militar do Iguaçu.   A atividade na época era o corte de madeira e o cultivo de erva-mate na fronteira e em partes dos dois países. Em 1889 foi fundada a Colônia Militar de Iguassu, devido ao posicionamento privilegiado da região. A preocupação já no regime monárquico embora tenha sido instalada de fato no regime republicana no início do séc. XX era de ocupá-la militarmente visando garantia de posse. (Yokoo,2002.p.210)
Um dos objetivos da colônia militar era de controlar os fluxos para que o Brasil não perdesse suas riquezas naturais com as vendas ilegais, mas o difícil acesso a Foz por terra e a falta de estrutura para navegação no rio Paraná agravaram a dificuldade da realização da fiscalização. Era o binômio mate-madeira que acentuava o tráfico, prejudicando o Estado Paranaense em se destacar na economia primário-exportadora.
Outro objetivo era a nacionalização da área, pois o idioma e a moeda também eram obstáculos na fronteira. Por essas dificuldades o processo de povoamento de Foz de Iguaçu foi bastante lento, em 1905 a maioria ainda eram os estrangeiros.
Devido a essas dificuldades o Brasil, mais especificamente o governo federal junto ao governo do estado do Paraná, teve a iniciativa de manter o domínio sobre as fronteiras e a ampliação do espaço paranaense da região com o estabelecimento de um espaço social e povoando para que mais tarde surgissem a partir dos pequenos núcleos as cidades Toledo e Cascavel, e as demais cidades que se desenvolveram na região oeste, que era de base econômica vinda da agricultura, ocupação principalmente feita pelos gaúchos.
Exceto foz do Iguaçu que tem sua força motriz econômica voltado ao turismo, Segundo Roseira (2006), existem duas formas de turismo nesta região de fronteira que são,  turismo ilegal, com as compras realizadas no Paraguai; e o  turismo bem estruturado dentro do território nacional como as cataratas e a hidrelétrica de Itaipu que se tornou um ponto turístico também no inicio da década de 1980.
É com estes dois pontos fortes que surgem pequenas atividades turísticas secundarias. A maioria dos turistas que visitam Itaipu provém da Argentina. O número de turistas que visitam as Cataratas é muito maior que o grupo de pessoas que visitam Itaipu, logo o turismo para as Cataratas é o que impulsiona a economia da cidade de foz do Iguaçu.
Para que ocorresse o povoamento e integração territorial do Oeste Paranaense o Estado adotou algumas medidas. A primeira etapa foi a  criação de Territórios Federais, objetivada a por em mãos áreas territoriais consideradas chaves ao desenvolvimento nacional.
Segundo Wachowicz (2010), em 1943 foi criado o Território Federal do Iguaçu, compreendendo o oeste e sudoeste do Paraná, e toda a porção leste de Santa Catarina. O Governo criou regras e decretos para colonização de terras no interior do território federal. O primeiro empreendimento que realmente obteve sucesso na colonização do Oeste do Paraná foi da indústria Madeireira Colonizadora Paraná S.A. Em 1951 quase todas as terras demarcadas nas propriedades ofertadas pela Maripá, foram vendidas ou compromissadas. Outras duas grandes obras foram construídas: rodovia BR-277 (ligação de Assunção ao Porto de Paranaguá) e Ponte da Amizade (Ligação Brasil e Paraguai).
Geopolítica adotado no Oeste Paranaense a partir de 1950, baseou-se em estratégias territoriais, que foram a criação do Porto de Paranaguá, Br-277 e a Ponte de Amizade. Os efeitos dessas obras citadas fez com que o Oeste Paranaense ampliasse seu processo de expansão populacional e crescimento da economia.
A construção da Hidroelétrica de Itaipu criou uma dinâmica interna própria, caracterizando-se em diferentes escalas. Poucas cidades paranaenses cresceram como Foz do Iguaçu. A construção do Itaipu atraiu um grande contingente populacional. Onde leva de trabalhadores de várias regiões do Brasil emigraram para a cidade devido às novas possibilidades de trabalho.(ROSEIRA,2006).


Criação da Zona Franca de Ciudad del Este – Resultados das Análises de Campo
Ciudad del Este criada em 1957 no extremo Leste do Paraguai, foi fundada para receber a rodovia que o governo paraguai e o governo brasileiro estavam construindo para a ligação da região central do pais a costa atlântica brasileira. A cidade com um crescimento tímido até então começa a passar por uma grande transformação a partir da construção da Ponte da Amizade em 1965 e com a abertura do Governo paraguaio às importações.
Apesar das grandes transformações da cidade terem se desencadeado somente após a construção da ponte, segundo Rabossi (2004) em 1960 já havia-se firmado a primeira concessão da Zona Franca da Ciudad del Este, através de um convenio entre a Comissão de Administração de Puerto Presidente Stroessner (antigo nome da cidade) e Foreign Markets Trading Corporation, aprovada anos mais tarde através da Lei 237 de 1971, ratificada como Zona Franca Internacional. Porem outros autores como Kleinke et. al., (1996) afirmam que a Zona Franca só foi criada em 1980, quando ela passa a ser um importante polo comercial no cenário internacional.
A inauguração da ponte ligando Foz do Iguaçu e Ciudad del Este foi um marco para o desenvolvimento das duas cidades principalmente para comercio na região. Nas duas extremidades da ponte passaram-se a aglomerar atividades comerciais especificas de cada país. No lado brasileiro iniciaram-se as lojas de produtos nacionais que aos poucos substituíram produtos argentinos no mercado interno paraguaio; e no lado paraguaio, comercio de artigos importados e de artigos típicos do Paraguai. (RABOSSI, 2004)
Os altos impostos sobre produtos importados no Brasil e na Argentina e a comercialização de produtos importados a baixo custo na cidade paraguaia, segundo Rabossi (2004), se tornaram rapidamente a principal atratividade comercial para brasileiros, argentinos e turistas do outro lado da fronteira.
A intensa demanda do centro comercial nas imediações da ponte com estabelecimentos comerciais como galerias, shoppings e postos de venda nas ruas, rapidamente se transforma em um polo de concentração de muitos imigrantes de todas as partes do mundo, mas principalmente árabes e mulçumanos que vem no comercio uma oportunidade para um novo meio de sobrevivência longe do seu país de origem. (RABOSSI, 2007)
A chegada dos primeiros imigrantes árabes está relacionada com esse comercio inicialmente na cidade de Foz do Iguaçu, nas quais possuíram um papel importante no crescimento do ramo. A maioria dos imigrantes que se estabeleceram nessa região tinha parentes ou conhecidos de referencia, outros aprenderam a arte mascatear com os próprios patrícios. Muitos deles também estavam fugindo de uma guerra civil no seu país, e a partir do momento que começam a ganhar espaço na tríplice fronteira, passam a fazer parte e a fundar Clubes nesse território, como o Clube da União Árabe, em 1962. (RABOSSI, 2007)
O autor supracitado ainda menciona que o comercio os proporcionava um retorno rápido e permitia vislumbrar um caminho para poder acumular e investir em novas possibilidades. A partir da inauguração da ponte os imigrantes estabelecidos em Foz do Iguaçu abrem suas lojas e importadoras na emergente cidade paraguaia, com as expectativas voltadas a um fluxo de produtos diferentes e orientado a outro publico.
Juntamente com esse cenário e com a vinda de muitos imigrantes para essa região, apareceram os primeiros vendedores de rua e outras pessoas que começaram a ganhar a vida na infraestrutura do movimento que crescia desde então, contribuindo para o inicio do circuito inferior conceituado por Santos (1978).
Outros fatores que contribuíram para a criação da Zona Franca foram a construção da Usina Binacional de Itaipu, bem como as numerosas transportadoras que transformaram Foz do Iguaçu em um dos mais importantes entrepostos de produtos brasileiros para exportação, e no lado paraguaio, a oferta de importados passando a ser ainda maior, com o estabelecimento de muitos representantes de firmas internacionais. (RABOSSI, 2004)
A ajuda que o governo paraguaio deu a cidade quando eliminou as tarifas externas de importação, diminuiu os impostos às importações e não implementou uma politica de desenvolvimento industrial  baseada  em um modelo de substituições de importação no país (RABOSSI, 2007), até os dias de hoje mostra sua força consolidada no setor comercial.
Com a crescente aglomeração de vendedores de ruas, laranjas e cambistas, desenvolveu-se a maior característica comercial de Ciudad del Este atualmente, a evidente disputa por um espaço onde as vendas pudessem ser realizadas nas ruas da cidade (KLEINKE, et. al., 1996) e caracterizando um grande comercio informal, que segundo Santos (1978) constitui o subemprego, o não emprego e a terceirização. 
Neste complexo cenário que se emergiu e se consolidou uma das maiores zonas franca da atualidade. Onde nenhuma ação do poder municipal conseguiu impor regras que realmente dessem conta de organizar tal espaço, tanto é que as autoridades passaram com o tempo a aceitar o comercio de rua mesmo não sendo o que se tentou estabelecer no regulamento municipal. (RABOSSI, 2004)
Atualmente toda a dinâmica da Zona Franca estabelecida na Ciudad del Este contribui para a economia da tríplice fronteira. Foz do Iguaçu-BR, através de seus atrativos turísticos como o Parque Nacional de Iguaçu e o Parque Tecnológico de Itaipu e Puerto Iguazú-AR, com a presença de feiras de produtos típicos e a ampla oferta de produtos importados e de grifes no estabelecimento comercial da DutyFree.
As especificidades do comercio de cada lado da fronteira faz com que cada cidade tenha exclusivamente seu publico, uma forma de compensação aos turistas que ali depositam seu tempo e dinheiro, pois mais atrativo do que os preços baixos sejam em produtos importados, falsificados ou típicos, é a proximidade entre as três cidades que se complementam para manter essa zona comercial.
Apesar de para o capital o cenário se configurar em um verdadeiro paraíso, para quem depende desse complexo sistema para sobreviver todos os dias vive um verdadeiro caos, observado em campo, em meio à falta de infraestrutura, à grande quantidade de lixo e dejetos na rua, ao mau cheiro nas vias onde há a maior concentração do comercio, ao transito caótico, à poluição sonora e visual em alta intensidade, à falta de segurança e ao trafico dos mais variados tipos.
 A Ciudad Del Este efetivamente é caracterizada pelo grande fluxo comercial, marcado pelas rugosidades do local. A concentração comercial é predominantemente marcada próximo a fronteira com o Brasil, onde este comercio vai desde os vendedores ambulantes, mesiteiros que vendem produtos falsificados, até alto shoppings de luxo como o Monalisa. Na entrada do país esta presente o mapa da Cuidad Del Este, este serve para os turistas terem uma melhor visualização, podendo se localizar na cidade.

                                Figura 1: Mapa da Cuidad Del Este
                                          Fonte: Jessica Bianca dos Santos

O que percebemos na cidade é um falho sistema de fronteira, arraigado a um descontrole da entrada e saída de mercadoria e veículos. Porém, no dia visitado havia a presença do exército nas ruas, isto por causa do grande número de assaltos e mortes ocorrida na fronteira, entretanto, sua presença era para a segurança dos indivíduos, e não para o controle de mercadorias. Há também uma despreparo na infraestrutura, pois o local não tem suporte para receber tanto turista como recebe, pois há uma baixa infraestrutura arraigado a um grande fluxo de pessoas.
A Ciudad Del Este se configura visivelmente em um espaço que obedece, uma lógica vertical, e cujo poder local é enfraquecido pelos movimentos do comercio, já que este está diretamente ligado ao contrabando, ao trafico de drogas, armas e crianças, onde o poder local não tem o controle comercial sobre esse espaço, sendo as leis que se adaptam ao comercio.
A quadra analisada (Figura 2 - Quadra 3) é marcada entre o meio e o fim do centro comercial. Predomina-se o comercio varejista, mesiteiros e vendedores ambulantes, não havendo, portanto, a presença de shoppings. Nesta quadra há presença de uma praça onde é concentrada em sua maioria os vendedores ambulantes. Por ser uma praça não há grande quantidade de arvores, elas também estão presente (em pouca quantidade) na calçada entre os mesiteiros (Figura 2).

                 Figura 2: Quadra 3

                  Fonte: Jessica Bianca dos Santos

O que mais nos chamou a atenção foi o cheiro forte de urina nas ruas, fazendo-nos questionar sobre a existência de rede de esgoto na cidade, mas esta rede existente, pois como seria se todo o esgoto domiciliar e comercial ficasse destinado as ruas. Não há presença de hidrante e lixeiras, há muita presença de lixos nas ruas principalmente concentrados nos canais fluviais, assim pensamos a dificuldade do escoamento de água nos dia de chuva, já que as galerias estão encobertas de lixo.

                 Figura 3: presença de lixo nas galerias pluviais
                  Fonte: Jessica Bianca dos Santos

Com a grande presença de veículos e comercio, tivemos dificuldade de identificar o final de cada quadra, não sendo algumas delimitada por paralelepípedo. Na quadra presenciamos um grande fluxo de pessoas, isto porque em frente há presença de um terminal rodoviário, onde principalmente os moradores utilizam para se locomover na cidade.
O comercio presente em cada país é desigual, na parte paraguaia fica evidente um comercio expressamente fluido, com grande numero de turistas; na parte brasileira há pouca fluidez, sendo quase inexistente, não possui variedade de produtos como no Paraguaio, sendo mais viável aos visitantes atravessar a fronteira, onde encontra mercadoria a baixo preço e por causa do grande numero de lojas comerciais o produto é negociável e barateado.
Para compreender e analisar a tríplice fronteira faz-se necessário ter consciência de como o território é usado. O uso do território entre as três cidades estão articulados através de um mercado fluido e turistas, porem apresenta papeis diferentes, o Paraguaio faz de seu território um centro comercial, Foz do Iguaçu um local de hospedaria dos turistas oferecendo também atrativos turísticos. 
Mesmo os três países pertencentes e fundadores do bloco econômico MERCOSUL, agora não mais o Paraguaio, apresentarem características muito distintas em relação a cultura com mistura de nacionalidades, a política, como o caso do Paraguai, são as leis que se adaptam ao comercio, a economia diferentemente distintas na tríplice fronteira, o uso dos territórios, etc.
Quando pensamos a importância das cidades da tríplice fronteira para aquele território, percebemos uma forte estrutura diversificada que possuem; o Paraguaio não possui uma boa infraestrutura para receber turistas, mas possui um mercado atrativo; a cidade de Foz do Iguaçu tem todo um suporte de infraestrutura, hotéis luxuosos, restaurantes, supermercados e FastFoods, além de atrativos turísticos como as Cataratas e o Parque Nacional do Iguaçu, contribuindo para que a tríplice fronteira seja um local atrativo para os turistas.
Percebe-se também que a relação entre Brasil e Argentina é estável, mesmo tendo um alto controle de sua fronteira.  A entrada no país é controlada tendo o nome notificado na alfândega. Também apresenta um mercado variado com produtos artesanais típicos, com preços acessível; além da Duty Free, que apresenta uma grande variedade de produtos originais, como bebidas, varejo, produtos de beleza; sendo os preços dos produtos não tão acessível a todas as classes.
O que mais nos chamou a atenção na Argentina foi o controle da fronteira e organização do território, totalmente diferente da Cuidad Del Este, o rigor de fiscalização e o suporte em infraestrutura é visível, principalmente no Duty Free, onde somente é permitida a entrada na loja sem os pertences individuais, eles são colocados dentro de um armário de segurança e retirados quando sair da loja. Também é dado uma bolsa na entrada para colocar os pertence que vão ser levado no interior da loja, como a chave do armário.
A tríplice fronteira representa para a região um grande fluxo de mercadorias e pessoas, tendo grande importância para as cidades, porem quando pensamos a importância destas cidades para o país não é tão relevante. Por exemplo, Foz do Iguaçu para a tríplice fronteira é um local turístico que recebe pessoas de todas as partes do mundo, porém para o Brasil e para o Paraná não tem grande importância comercial.   
Cabe lembrar a importância que Santos (1977) dá ao processo histórico, tanto Ciudad Del Este quanto Foz do Iguaçu possui heranças históricas de povoamento que se repercutem ate hoje no território.
Muitos trabalhadores não são paraguaios, alguns são árabes, turcos, brasileiros, que nos faz levantar algumas considerações acerca da identidade dessas pessoas. Também pensar o que Santos (1977) considera território a partir do momento que este é usado, quando há interligação com as redes e nós, sendo estes os meios que consolida a fluidez do território, presente na tríplice fronteira.


Conclusões
A Tríplice Fronteira tratasse de três territórios pertencentes a Estados diferentes, Brasil, Argentina e Paraguai, onde seus povos podem circular de um país para o outro conforme critérios de cada um deles, por exemplo, para que um cidadão brasileiro entre no Paraguai não é necessário que ele informe que está indo para este país, entretanto se este mesmo cidadão pretende ir para Argentina este deve se identificar na entrada e na saída, pois caso entre e não sai este ficara como ilegal no país.
Na Tríplice Fronteira podemos ver a questão de pertencimento com relação ao seu território e ao seu país, isto fica muito claro quando vemos as divisas de Brasil e Argentina na Ponte da Fraternidade, o lado da ponte que pertence ao Brasil é pintado pelas cores verde e amarela e o lago argentino com as cores azul e branca, cores de ambas as bandeiras.
Podemos ver neste espaço diferentes tipos de uso do território conforme os momentos históricos. Quando falamos que Foz do Iguaçu (Brasil) se vê uma cidade que tem sua economia pautada em atividades comerciais, mais precisamente no turismo gerado pelas Cataratas do Iguaçu, pela Hidroelétrica de Itaipu e pelo comercio realizado na fronteira.
O turismo realizado nestes dois pontos segue os padrões internacionais, o realizado na Usina Hidroelétrica de Itaipu teve inicio na década de 1980 sendo seu maior publico turistas vindos da Argentina, com relação ao turismo realizado nas Cataratas do Iguaçu este recebe um grupo muito maior de pessoas sendo este o que realmente impulsiona a economia do município e o que o torna a sexta cidade mais importante no turismo nacional no quesito de receber pessoas, com estes dois pontos turístico não só eles lucram, mas o setor hoteleiro, gastronômico, as agencia de turismo e eventos também.
Quando nos referimos a Puerto Iguazú (Argentina) vemos dentro da mesma cidade dois seguimentos da economia comercial o turismo proporcionado pelo lado argentino das cataratas e o comercio realizado nas feiras e o realizado no Shopping Center. Quando falamos nos comercio realizado nas feiras de Puerto Iguazú tratasse da comercialização de produtos típicos da argentina e produzidos na própria cidade como é o caso das azeitonas, vinhos, produtos de couro, chocolates, azeites e o artesanato local, ao que se refere ao Shopping Center, mas precisamente o Duty Free na entrada do país vemos produtos originais importados de outros países, europeus e estadunidenses, onde temos estes produtos separados por categorias e expostos de forma que agreguem valor ao produto, tratasse mais de uma loja de departamentos do que um Shopping Center.
É possível ver no caso de Puerto Iguazú a presença dos circuitos inferiores e superiores da economia urbana, nas feiras fica claro a presenta do circuito inferior com a produção artesanal com baixo emprego de mão de obra, um comercio local com a presença de diversos produtos porem com baixos estoques. Por outro lado quando vimos a Duty Free conseguimos enxergar o circuito superior onde encontramos a alta tecnologia importada, um padrão de exposição de produtos, a facilidade de comercialização não utilizando mais o dinheiro em espécie, mas também cartões de créditos ou de debito que estão ligados a um banco que necessariamente não está próximo.
Referente à Ciudad del Este (Paraguai) tratasse da segunda maior cidade deste país em termos econômicos e demográficos mesmo sendo uma cidade relativamente nova, fundada em 1957, porem foi somente com a inauguração da Ponte da Amizade (1965) que duas áreas comerciais se desenvolveram, uma no Brasil e outra no Paraguai, fazendo portanto com que o crescimento nesta região ocorresse. Os árabes dentro deste contexto tem grande importância no desenvolvimento do comercio, pois são eles com a inauguração da ponte foram os primeiros a instalarem seus comércios em Ciudad del Este.
Atualmente devido ao crescimento econômico vinculado ao movimento comercial de produtos importados de diversos lugares, Ciudad del Este, é considerado um dos centros comerciais regionais da América Latina. Tratasse de um mercado composto por imigrantes internos e externos que possuem seu próprio comercio ou são vendedores, cambistas ou transportadores de mercadorias que atendem o mercado de fronteira que possui consumidores de diversos lugares.
Devido a estas circunstâncias Ciudad del Este é um local que recebe destaque nos meios de comunicação e do próprios governos que fazem fronteira com Paraguai ou não, por se tratar de uma área de comercio a Tríplice Fronteira é um espaço onde concentrasse trabalhadores que do comercio tiram seu sustento porem é um espaço que concentra todos os problemas de segurança contemporâneos, terrorismo, máfias transnacionais, pirataria, contrabando, lavagem de dinheiro, artigos roubados, narcotráfico, trafico de armas, órgãos, prostituição entre outros. Sendo este um espaço após os atentados de 11 de setembro de 2001 um local de preocupação dos órgãos de segurança, principalmente os norte americanos, pois é nesta região onde há a maior colônia de árabes fora do Oriente Médio.
Com a realização do campo podemos ver clareza o tudo o que foi lido, ao ir em Ciudad del Este conseguimos ver o turista que faz longas viagens para consumir produtos importados com menos impostos, vemos o turista que compra produtos para revender em suas cidades, vemos também os vendedores de rua que abordam as pessoas que estão andado para vender seus produtos de baixa qualidade, conseguimos ver também a apropriação das ruas com o vendedores que armam suas barracas no meio das calçada dificultando a circulação, foi possível ver em um determinado momento em que caminhávamos pela cidade artigos roubados como carros circulando sem placas e com relatos de colegas de campo podemos ver a existência do trafico de drogas, armas e prostituição, pode se colocar aqui também a presença forte de comerciantes árabes que tem um espaço considerável dentro da cidade.
Entretanto ao mesmo tempo em que vemos isto nas ruas a cidade possui um Shopping Center chamado Monalisa onde vende artigos importados originais de outros países que lembra muito o DutyFree da Argentina, que oferece ao consumidor uma garantia do produto que esta consumindo e também oferece ao mesmo segurança pois é um local mais reservado onde há presença de segurança e câmeras entretanto esse amais está agregado ao valor do produto.
Quando se trata de Ciudad del Este conseguimos o uso do território em função do comercio desde a inauguração da Ponte da Amizade e que ao longo do tempo vêm sendo intensificado, entretanto devesse lembrar que não é cidade inteira que sofre esse processo mas sim a área que esta nas proximidades da ponte. Podemos ver também nesta área concentrada o circuito superior da economia urbana, pois nas ruas conseguimos ver um subemprego e o não emprego, vemos também um comercio desorganizado com estrutura precária e poluição das ruas, entretanto vemos dentro da mesma área a presença do circuito superior ao nos deparamos com lojas de departamento que vende a mais alta tecnologia e os novos lançamentos das multinacionais, vemos que estes produtos são importados e não produzidos ali mesmo e conseguimos ver a possibilidade do crédito para compras, como vimos no DutyFree.


Referências Bibliográficas

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