sábado, 29 de junho de 2013


CIDADES FRONTEIRIÇAS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Cristiane Vieira
Haroldo Junior
Jaíza Gabriella Gois
Talita Fiori
Vitor Souza 

"Deixemos à astúcia de uns, à ingenuidade de outros, a Fronteira Natural: não há senão Fronteiras Humanas. Elas podem ser justas ou injustas, mas não é a natureza quem dita a equidade ou aconselha a violência”.
Lucien Febvre (2000, p. 20) - O Reno

Figura 01 – Objetivos do trabalho de campo





TRABALHO DE CAMPO – GEOGRAFIA DO BRASIL

Trajeto: Londrina – Foz do Iguaçu – Ciudad del Este – Porto Iguazú
Londrina – Foz do Iguaçu – 630 km

Manhã
Tarde
OBJETIVOS DO TRABALHO DE CAMPO
Dia



07/06

Chegada a Foz do Iguaçu -Visita ao Parque Nacional do Iguaçu
Visita ao Parque Nacional do Iguaçu

·         Observar os papeis que as três cidades desempenham na Tríplice Fronteira

·         Identificar as relações das atividades desenvolvida na fronteira internacional


·         Observar os aspectos econômicos, sociais, culturais, turísticos e de segurança

·         Compreender a geopolítica da Tríplice Fronteira


·         Compreender o uso do território na perspectiva jurídico-política, cultural e econômica
08/06

Visita a usina binacional de Itaipu



Museu do Povo Guarani – Ciudad del Este e observação das quadras
09/06


Cidade de Puerto Iguazú (Argentina) – Duty Free, aduana, feira
Retorno para Londrina (14h00)

Introdução

 Para entender a dinâmica socioespacial de um dado local é preciso que antes, pois, se entenda sua dinâmica territorial, assim como suas particularidades. No presente ensejo analisaremos as formas espaciais que o território adquire a partir das relações de poder e de uma particularidade espacial, que ocorre em diversos locais do mundo, os limites territoriais, ou mais comumente conhecidos, como as chamadas fronteiras.
O nosso objeto foi à cidade de Foz do Iguaçu, localizada no oeste do Paraná; Porto Iguazú na Argentina e Ciudad del Este no Paraguai, ambas pertencente a região da Tríplice Fronteira, constituída por estes três países.
Para entendermos, pois, analisemos primeiro o que os teóricos nos apresentam sobre tais conceitos. O conceito de fronteira, segundo a geopolítica em sua fase clássica, denomina tal colocação como diretamente relacionada ao conceito de Espaço-Nação, como salienta Foucher (1991).
Mas no amplo sentido da palavra, o termo fronteira traz uma forte conotação militar, relacionado às questões nacionais de defesa, ao que muito se vem sendo discutido, devido a novos entendimentos sobre o vocábulo. O termo fronteira tem também uma conotação com as zonas de povoamento.
A partir de acontecimentos históricos e do desenvolvimento da cartografia, tem-se então o conceito de limites, que a partir de certo período histórico há um deslocamento das barreiras fiscais para os limites externos o que caracterizou as atuais funções que atribuímos ao sentido de território instituído ou território nacional que são: exercício de controle, atuação legal, fiscal e militar, esta última relacionada à defesa do território.
Ainda no sentido do conceito de limite temos que segundo Raffestin (1991), este conceito então está diretamente relacionado a um conjunto de instituições jurídicas, e normas que servem para nortear e regulamentar as atividades em uma sociedade política, o que configura um caráter importante a questão das fronteiras, que se caracterizam pela presença dos limites políticos e espaciais.
Há, portanto, certo desarranjo com relação a um conjunto de leis estabelecidas num território configurado como área de fronteira, ao que podemos salientar:


Não há lei que possa ser aplicada sem a delimitação de um território, que se torna homogêneo em face desta lei [...] Na medida em que as normas se aplicam de forma diferente de um lado e de outro das descontinuidades, elas constrangem certos tipos de deslocamento impondo-lhes uma trajetória, permitindo assim, uma ação sobre a organização territorial” (HUBERT, 1993. p.18)

Tais eventos se dão também em função da posição geográfica dos agentes e objetos que compõem tal espaço.
Para Santos (1996), essas medidas são então criadas e tornam-se então mediações jurídicas, para da operacionalização de empresas em dados lugares, materializando assim um conjunto de interações. Que configuram então a realidade deste dado lugar, impondo-lhe uma nova ordenação territorial.
A fronteira então pode ser classificada uma função de controle sobre os fluxos internacionais, tanto com relação ao fluxo de pessoas assim como de bens e mercadorias.
Com relação às mediações jurídicas dos espaços de fronteira, temos que: Mudanças recentes no sistema de estados nacionais, vulgarmente expressas no termo “porosidade” das fronteiras nacionais, ou na afirmação de que os estados nacionais estão sendo dissolvidos pela globalização, indicam que a funcionalidade dessa convergência conceitual precisa ser revista, pois o caráter dessas mudanças está gerando uma divergência entre a função política dos limites e a função econômica das fronteiras. (MACHADO, 2000, p. 18)
Isso causa o que podemos chamar de um relaxamento das barreiras fiscais com relação ao comércio internacional, como também com relação a intensa movimentação de pessoas.
A formação de blocos econômicos também, principalmente a níveis regionais estão criando novas ordens para tais eventos, uma vez que se observa uma nova organização de adaptação dos países com relação aos fluxos econômicos gerados nas mesmas.
Dentre as questões colocadas ainda há a discussão acerca dos nacionalismos encontrados nas fronteiras. Estes são caracterizados pelo intenso fluxo de pessoas que circulam em locais de fronteira, e mais ainda com a presença das chamadas Zonas Francas, como é o caso da fronteira brasilo-paraguaia, objeto de estudo do presente ensejo.
A organização destes espaços, bem como da institucionalização de seu território que corrobora uma série de normas e regras, acabam por esbarrar nas chamadas atividades ilegais que também estão associadas a locais fronteiriços.
O conceito de território é amplamente discutido, porém temos que entendê-lo para que possamos também entender as dinâmicas que levam as configurações espaciais e normativas, dos locais de fronteira.
Primeiramente entendamos que o território pode ser entendido como: “um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder” (SOUZA, 1995, p.78).
Neste caso, pensemos que uma região de fronteira possui elementos de um território enquanto um Estado-Nação, mas que também configuram o encontro de diferentes conceitos dos mesmos, pois como já foi ressaltado, configura também espaços do poder, com interesses diversos.

A partir disso, pensemos então o território como o local onde tudo acontece, ou seja, é nele que são empregadas as técnicas do MTCI, é nele que se dão as relações de poder entre Estado, empresas e sociedade, e portanto, este é um elemento importante nesta análise, pois é onde se darão todas as possíveis relações existes na Tríplice Fronteira, porém não deixando de salientar, que cada território possui regras e normas de acordo com a constituição de cada Estado- Nação. Neste sentido, temos que:

“O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de coisas superpostas”. O território tem que ser entendido como o território usado, não o território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho, o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida. (SANTOS, 2002, p.10)

Neste sentido não podemos entender os espaços como sendo homogêneos, pois cada um possui uma configuração, e para entender como as lógicas territoriais se aplicam, é necessário entender o modo de funcionamento dos circuitos existentes num dado território, por isso, é de tamanha importância que analisemos um espaço de fronteiro, pois além de configurar territórios diferentes, configuram também diferentes territorialidades, nacionalismos e interesses, assim como uma implicação socioespacial a partir da ação desses agentes.

O uso da Tríplice Fronteira: território em formação

O trabalho de campo propiciou reflexões acerca da dinâmica do território, seus usos, os diferentes papeis que as três cidades visitadas na tríplice fronteira desempenham na rede urbana, as relações das atividades desenvolvidas na fronteira internacional, entre outras observações que tange aspectos econômicos, sociais, culturais, turísticos e de segurança.
Para compreender de maneira sistemática os aspectos levantados foi necessário os refletirmos em uma perspectiva geográfica, cuja categoria de território nos mostrou ser pertinente.
A categoria de território na Geografia é muito utilizada em estudos para compreendermos as atividades econômicas desempenhadas e os atores que disputam o espaço urbano. Um dos grandes expoentes em compreender o conceito de território foi Raffestin (1993), que em seus estudos ressaltava a necessidade de compreender a o território não apenas em sua dimensão espacial, mas nas relações de poder.
Muitos autores fazem reflexões profícuas acerca do conceito de território e de seus usos e possui bases teórico-metodológicas muito próximas do Raffestin (1993). Souza (2001, p. 11) também compreende o território como relações de poder, independente da escala de análise, que para ele pode ser “do quarteirão aterrorizado por uma gangue de jovens até o bloco constituído pelos países membros da OTAN”.
Para Saquet (2004) o território também é compreendido a partir de relações de poder, sendo que é produzido espaço-temporalmente pelas relações de poder de um determinado grupo social, além de ser permanente ou temporário se efetivando em diferentes escalas.
Haesbaert (1997) é um dos autores que tem mais se dedicado ao estudo do território atualmente. Sua análise parte do pressuposto que o território tem que ser abordado sobre diferentes perspectivas, e apresenta três delas: jurídico-política, cultural e econômica, que são necessárias para não reduzir a diversidade territorial.
Dentro das perspectivas apontadas é que as análises e as observações do trabalho de campo foram projetas Além de compreender os usos do território em diferentes perspectivas, econômica, política, cultural, também foi obsevado a geopolítica da fronteira.

As fronteiras têm leis que antecedem os mandos dos Estados para o controle de fiscalização. Raffestin (1993) coloca três significadoras à fronteira: legal, de controle e fiscal. Estas são funções dos limites territoriais que são modelares sociais. É preciso também pensar nas dinâmicas, no mundo contemporâneo que estamos, onde o fortalecimento das regiões se da pela globalização, não se pode ignorar ou enfraquecer as fronteiras, mas incentivar o intercâmbio comercial e os fluxos de capital, os territórios – rede.

Localização da região transfronteiriça

                Foz do Iguaçu é exemplo de embates, por apresentar situação de fronteira entre Ciudad Del Este,  Puerto Iguazú, ou seja, região transfronteiriça. O grande fluxo de turistas que visitam as Cataratas do Iguaçu e a Usina Hidroelétrica de Itaipu também fazem parte do comércio de Ciudad Del Este e colocam a tríplice fronteira como importante dinamizadora de mercadoria e de pessoas. Existindo também o fluxo ilegal pela Ponte Internacional da Amizade trazendo tensões para o local.
Toda essa região polarizada de Foz do Iguaçu se envolve na sua herança histórica, desde a antiga conhecida Fronteira Guarani, passando pela formação da Colônia Militar de Iguaçu em 1888 até hoje, mostrando a ausência de políticas de incentivo como o Mercosul.
A história é marcada pelo crime organizado, tráfico e pirataria, o fato dela sser  amplamente acessível e com alto grau de permeabilidade, composta por uma ampla diversidade étnica e comercial amplia os conflitos e os problemas na fronteira(FEREIRA, 2010).
A tríplice fronteira localiza-se na América do Sul (Figura 02) é composta por Brasil, Paraguai e Argentina, em uma região situada na confluência de dois rios, o Paraná e o Iguaçu. Os rios banham três cidades da tríplice fronteira: Ciudad Del Este, Puerto Iguazu e Foz do Iguaçu. A conhecida Ponte da Amizade, inaugurada em 27 de março de 1965, une Paraguai e Brasil e a Ponte da Fraternidade, Brasil e Argentina. Além das pontes, a região possui a Hidrelétrica de Itaipu, concluída em 1989 (NOGUEIRA; CLEMENTE, 2010).

               Figura 02 – Tríplice Fronteira – Brasil, Argentina e Paraguai

  
Colonização e conflitos: o hibridismo cultural

Podemos lembrarmos dos conflitos históricos que geraram tensões na época colonial entre o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, um deles foi a Guerra do Paraguai, relembrando que Estado, poder e território são indissociáveis apesar de tudo.
A bacia do Prata, conhecida como fronteira Guarani até a década de 1980 foi local de estratégias e tratados entre nosso país e o Paraguai, pela área disputada da Tríplice Fronteira.
Nos finais da década de XIX houve conflitos militares que ambos reforçavam o controle dos limites territoriais para tentar investidas para o além da fronteira, ou seja, aumentar o território fronteiriço mostrando já o seu valor para os dois países.
Décadas depois a Argentina teve um período de hegemonia na Bacia do Prata e o Brasil tentava estabelecer um espaço social no Oeste paranaense voltado para as bases de sua projeção na América do Sul.
A partir de 1950, percebemos a história dividida em três momentos e neste com a expansão das redes, o Brasil consegue aprisionar de certa forma o Paraguai e atinge na Bolívia a acepção de Travassos (1935). Com todo esse contexto, pode-se evidenciar Foz do Iguaçu como palco de tensões e como importante foco geopolítico até mesmo ao analisar construções de estradas, ferrovias e portos. Tendo assim a noção dos conceitos centrais existentes: território, zona de fronteira, circulação e recurso.
Anteriormente a época citada por Travassos, tínhamos os missioneiros jesuítas que foram importante para o povoamento da fronteira, além de ter o objetivo principal de converter os povos guarani a religião católica, erradicando as práticas culturais tidas como selvagens e a introdução do indígena na fé católica.
Houve um processo hibridismo cultural, apropriando praticas ibéricas a cultura nativa mesclando a cultura guarani com a cristã onde promoveu uma reorganização das praticas sociais e culturais do povo guarani.

              As missões desenvolvidas na fronteira tinham dimensão além do espaço físico do oeste do Paraná, pois envolviam o limiar entre as sociedades da coroa europeia e os nativos. As fronteiras exploradas pelas missões eram diversificadas.

Ela é fronteira de muitas e diferentes coisas: fronteira da civilização, fronteira espacial, fronteira de culturas e visões de mundo, fronteiras de etnias, fronteira da história e da historicidade do homem. E, sobretudo, fronteira do humano (MARTINS,2009, p. 11 – grifo do autor).

             A construção da colônia militar veio para reforçar a missão de controlar as tensões locais da fronteira, agora sem jesuítas, mas com militares. Em 1905, a maravilha das Sete Quedas hoje mundialmente conhecida, mostrava o sentimento de nacionalismo brasileiro ao local, área também da colônia militar do Iguassu.
No alvorecer do século XX, muito antes da fama de Foz do Iguaçu, já se faziam calorosas discussões a respeito da potencialidade turística, porém não foi à beleza da cachoeira que atraiu e povoou o local, ao contrario, o governo temia o abandono da fronteira.
A atividade na época era o corte de madeira e o cultivo de erva-mate na fronteira e em partes dos dois países. Somente em 1888, as autoridades políticas e militares brasileiros perceberam as condições de abandono nos arredores da fronteira e estabeleceram ações como a colônia militar do Iguassu para as construções de estradas de rodagens, um bom começo estratégico.
Em 1889 as bases da colônia militar foram instaladas e o objetivo era garantir a posse da área das Sete Quedas, ainda que de caráter bélico advindo desde um conflito de 1872, em que o Paraguai derrotado assinou o Tratado de Limites, anexando ao Brasil a posse de terras paraguaias a leste do rio Paraná, conflito do período Imperial (RABOSSI, 2007).
Os militares desse momento assustaram ao saber que na região moravam 324 pessoas, de maioria estrangeiros sendo somente 93 brasileiros e ainda que todos se mantivessem através do contrabando da erva-mate e madeira. Então teve que tomar medidas, junto ao Governo Federal, de arrecadar impostos e regularizar os produtos e atividades da fronteira (Mesa de rendas) (RABOSSI, 2007).
A priori desse momento era controlar os fluxos para que o Brasil não perdesse suas riquezas naturais com as vendas ilegais, porém o difícil acesso a Foz por terra e a falta de estrutura para navegação no rio Paraná causaram uma impossibilidade de fiscalização. Era o binômio mate-madeira que acentuava o tráfico fazendo com que o Paraná perdesse a chance de ser destaque na economia primário-exportadora.
Para piorar a situação, os militares tinham que buscar a nacionalização da área, pois a língua falada e a moeda eram dois grandes problemas da fronteira, era preciso uma unificação.
Por isso o processo de povoamento de Foz de Iguaçu foi bastante lento, encontrando dificuldades, em 1905 eram 2000 habitantes, mas continuavam a ser a maioria estrangeiros.
Na primeira década do século XX parte do contrabando já havia sido revertido em exportações por conta da Mesa de Renda Federal, e outro marco foi a construção de um telégrafo e a busca de fixar a população na área.
Agora o único problema era que a área ainda estava isolada e em situação de abandono, pela ineficiência do plano de construção de estradas, pensavam até que a solução seria em dar autonomia ao povoado, para evitar a desnacionalização, mas também aconteceria um fracasso pela precariedade local.
Então a colônia militar buscou um centro agrícola e pastoril, apesar do desinteresse da população que se atraia mais pela madeira e mate e preferia importar produtos que poderiam ter em abundância.
Desse modo, restou ao Estado Nacional estimular a exportação mate-madeira, amparados pela Lei de Térreas de 1892, que dividiram grandes propriedades extrativistas até mesmo para assegurar o domínio da fronteira através da produção (RABOSSI, 2007).
Surgiram então os Obrages,que significava especializados em um tipo de atividade no Leste Paraguaio e Nordeste Argentino, ao receberem terras do Governo Paranaense começaram a ser fiscalizados e taxados pela ilegalidade.
Esses Obrages também tomaram iniciativas como construir estradas de ligação, e faziam parte de empresas que possuíam além de extensas faixas de terras, os navios a vapor do Rio Paraná e casas de comércios e mercadorias como portos que tinham funções tanto de exportar, quando importar da Argentina e ainda contrabandear (RABOSSI, 2007).
O peão que trabalhava nas terras, conhecido como “mensus”, ainda era obrigado a comprar produtos de necessidades básicas no armazém do Obrages, como uma forma de exploração à mão de obra.
Porém, antes mesmo do Estado Novo, esse sistema de produção entrou em decadência e em 1920 as autoridades se surpreenderam com a nova condição de abandono do Oeste paranaense, que continuava desnacionalizado pelas diferentes culturas e moedas.
Dois fatos foram importantes para essa desestruturação: a Argentina evitou a exportação do produto brasileiro adotando política nacional e com a Coluna Prestes os trabalhadores que viviam como escravos foram libertados do Obrages (RABOSSI, 2007).
O Estado Novo entrou com objetivo de solucionar os problemas da fronteira, buscando atrelar política, ciência e capital, a criação de Territórios Federais foi a primeira etapa, proposta de redividir o território brasileiro para melhor administrar (RABOSSI, 2007).
Em 1943 foi criado o Território Federal do Iguaçu, compreendendo o oeste e sudoeste do Paraná, resultado da Marcha para o Oeste que também aconteceu em outras regiões do país.
Essa nova política significava expansão capitalista com duas ideias centrais: no litoral com área de influencia estrangeira e no interior com fundamento da nacionalidade. No Paraná essa ideia não foi bem aceita por conta de conflitos territoriais como a disputa de Contestado.
Mas mesmo assim a fiscalização pela colônia militar Iguassu e a Comissão Estratégicas foram retomadas. E três aspectos se tornaram base para consolidação geopolítica da Bacia do Prata: população como recurso, pequena propriedade agrícola e circulação, produzindo um espaço social nas décadas de 50, 60 e 70.
O Governo criou regras e decretos para colonização de terras no local, para se estabelecer um padrão de ocupação que não proliferasse o aparecimento de extrativismo por estrangeiros. Esse modelo de obrigatoriedade de pequenas propriedades de Vargas foi a base do futuro econômico da região (RABOSSI, 2007).
E o avanço em construções de escolas, hospitais, comércio e estradas melhoraram ainda mais as condições. Um marco foi a Industrial Madeireira Colonizadora Paraná S.A, empresa que dividiu lotes que não passaram de 10 alqueires, oferecendo estrutura aos colonos, na sua maioria gaúchos e catarinenses. Com isso, ganhando fama e atraindo imigrantes (RABOSSI, 2007).
Esse modelo também foi apoiado mais tarde por Lupion e Rocha Neto, vivenciando as maiores taxas de crescimento populacional do Brasil, portanto necessitando de políticas eficazes.
Duas grandes obras foram construídas: rodovia BR-277 ( ligação de Assunção ao Porto de Paranaguá) e Ponte da Amizade ( Ligação Brasil e Paraguai), assim aprisionando o Paraguai sem saídas para o mar fazendo entrar no jogo Brasil x Argentina.
O efeito dessas obras citadas acima foram concretos e rápidos, causando ao Paraguai a sua satelitização e a Argentina uma perda de hegemonia política e econômica, para o Oeste Paranaense foi a sua vivificação seu processo de expansão populacional e crescimento da economia.
Já com os efeitos nas décadas de 60, 70 e 80 com a modernização agrícola e urbanização concentrada, formaram-se os primeiros pólos urbanos da região, Foz do Iguaçu e Cascavel assumiram liderança.
A usina Hidrelétrica Itaipu também criou uma dinâmica em diferentes escalas: municipal, regional e continental.
Poucas cidades paranaenses cresceram no mesmo vigor que Itaipu, a construção da usina atraiu grande contingente populacional, muitos trabalhadores imigraram para o local a partir de 1970, por isso a história da própria cidade se confunde com o inicio da obra da usina e com isso a infra estrutura ia sendo instalada (RABOSSI, 2007).
O lago formado pela represa barrou a expansão da área urbana em certos pontos, ocorrendo uma conurbação para o lado oeste, mas a atividade do turismo de compras entre o Paraguai e o Brasil passou a ser uma central de atrações, entre com isso as Cataratas do Iguaçu, Usina de Itaipu e Ciudad Del Este. Uma relação de complementação comercial até mesmo com Puerto Iguazú na Argentina, constituindo uma metrópole tri-nacional.
Após o término nas obras da Usina, os trabalhadores desempregados buscara na informalidade do comércio atacadista uma solução para permanência e sobrevivência na cidade.
Foz do Iguaçu precisou de fatores mais descontínuos, como a presença de imigrantes e comerciantes “sacoleiros” para formar sua população urbana e as atividades turísticas passaram a ser maior fonte de renda, como em Guaira, Santa Helena e Medianeira.
Existe também grande questão polêmica a respeito da conservação do meio ambiente do local, uma concepção de sustentabilidade e energia limpa forjada pelo Paraná.
Outro fator importante é que nas áreas limítrofes o dinheiro e a língua paraguaios estavam sendo substituídos pela moeda e língua portuguesa, provocando a aculturação paraguaia do local, reforçando sua dependência com o Brasil.
Além disso, para bancar sua parte nos investimentos da construção da Usina itaipu, o Paraguai contraiu uma grande dívida com o Brasil.
Assim instabiliza-se o Mercosul caracterizando a integração regional e as Inter-relações entre países sul-americanos, que não significam apenas a diluição das fronteiras, já que o controle fiscal e legal ainda acontece. Não se pode perder de vista os riscos de fluxos de armas e mercadorias ilegais existentes entre países fronteiriços, aumentando grupos criminosos e terroristas.
O Sul e o Sudeste do Brasil constituem-se o centro privilegiado dessa integração, de forma a aproveitar as possibilidades naturais e a construção de uma ampla rede de transportes interligando rodovias, hidrovias e ferrovias.
Formando vetores: vetor tecno-ecológico: áreas que compreendem os principais ecossistemas brasileiros e vetor tecno-industrial: referente às principais áreas de produção, consumo e tomada de decisão onde ocorrem as descentralizações.
  Por fatores climáticos bastante favorecidos, foi possível o intercâmbio entre os países fronteiriços de produtos como: cereais (milho, trigo, arroz, cevada), lácteos (leite, queijo), frutas temperadas (uva, pêssego, pêra, maçã, etc.) hortículas, (alho, batata, cebola) carnes (bovino e couro) e oleaginosas (soja, girassol).
E Foz do Iguaçu continuou com sua maior força no turismo: O turismo ilegal, com as compras realizadas no Paraguai e um turismo bem estruturado dentro do território nacional como as cataratas e a hidrelétrica de Itaipu e nas relações que ela tem com a fronteira e comercio varejista, proporcionando um bom setor de hotelaria.
 Insere-se o Plano Real que afetou de várias maneiras o comércio de Foz: com a sua valorização perante o dólar a nova moeda proporcionou aumento da atividade turística, vinculada as compras em Ciudad Del Este. Influenciando outras atividades comercias na cidade de Foz do Iguaçu tais como na rede de hotelaria e transportes, ocorrendo uma ligação entre o turismo relacionado às compras na cidade Paraguaia e os passeios às cataratas de foz.
Com a circulação de pessoas e mercadorias, Foz acabou sofrendo um processo de desterritorialização, existe um verdadeiro clima de guerra entre traficantes e fiscais e a própria população que vive do contrabando de produtos. Foram tomadas algumas medidas como o Brasil contra a pirataria, porém não diminuíram tão significadamente os índices considerados.
Esse é um ponto de fragilidade que numa crise de 1997 houve a oscilação da fronteira e do próprio Mercosul que propôs a formação de um mercado comum entre Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, que depois teve sua estabilidade garantida, envolvendo o fortalecimento de seus parceiros, sendo um meio concreto de enfrentamento dos desafios da competitividade econômica e de representatividade política.

Portanto, devemos levar em consideração a importância da Tríplice Fronteira do Brasil que ainda tem deficiência de fiscalização e perde muito na economia com isso. Sendo o Mercosul uma grande relação de fluxo entre os países, porém precisa-se de projetos aperfeiçoados de controle fronteiriços eficazes para combater o comércio ilegal e impulsionar o crescimento econômico do Cone- Sul.

Roteiro de Campo: trajeto e reflexões

No dia 07/06/2013 saímos de Londrina rumo a cidade de Foz do Iguaçu, com as disciplinas de Recursos Naturais, ministrada pelo Prof.º drº Carlos Alberto Hirata, e Geografia do Brasil ministrada pela Prof.ª drª Márcia Siqueira.
Com o intuito de fazer uma análise concreta e empírica dos locais a serem visitados e estabelecer critérios de avaliação perante as bibliografias repassadas num período anterior a atividade de campo.
Saímos de Londrina às 06:00 do dia sete de junho iniciando nosso percurso, e nele também fazendo algumas considerações a respeito das mudanças de paisagens ao longo da viagem. Destacando aspectos físicos e sócio econômicos, onde cada um se apresenta devido a questões históricas e estruturais de cada município.
Destacando, pois, aspectos como: presença de agroindústrias, revendedoras de equipamentos para agricultura, centrais de distribuição de energia, culturas de milho e trigo, pastagens, plantio de eucaliptos e indústrias madeireiras, etc.

Parque Nacional do Iguaçu

Chagamos, pois ao Parque Nacional do Iguaçu as 15:35, onde podemos ter acesso a uma loja de souvenires quase todos trazendo o logo das cataratas, representando uma atividade comercial direcionada ao turismo, mostrando a inserção direta do capital no Parque.
 Nesta primeira parada, o local nos apresenta não apenas como cartão postal, mas uma importante fonte de renda por meio do turismo desenvolvido na mesma por meio da presença das Cataratas do Iguaçu, um conjunto de quedas d’água no rio Iguaçu, que acabam também por dividir a cidade brasileira de Foz do Iguaçu e a cidade argentina de Puerto Iguazú.
Um espetáculo da natureza, de beleza sem igual. Considerada Patrimônio natural da Humanidade. Está localizada na parte brasileira no Parque Nacional do Iguaçu, que abriga também o Parque das Aves, onde diversas espécies nativas se reproduzem e vivem ali como um refúgio aos caçadores.
Para que possamos usufruir do prazeroso momento de poder observar tamanha beleza natural, alguns atos devem ser feitos para que isso possa se efetivar. Nesse caso, e em tantos outros lugares do mundo, é através do turismo que podemos então usufruir desta paisagem.
O turismo é muito discutido em diversas esferas, seja em seus pontos negativos quanto nos positivos. Sabemos que tudo que interfere no que de fato é dito natural, pode se tornar algo maléfico àquele local. Com relação ao Parque Nacional do Iguaçu, podemos ver que a infraestrutura que foi desenvolvida para tanto, corresponde a demanda.
Mas temos que pensar que a atividade turística esta diretamente relacionada com um acúmulo de capital, ou seja, visando obviamente o lucro.
Nesse sentido, sinto que na maioria das vezes perde-se o real motivo de estarmos ali visitando tal lugar, a beleza é incontestável, mas a partir do momento que existem taxas a serem pagas pra que possa ser efetivada sua visitação a algo dito “natural”, passa a ser mais um tipo de comércio, e pouco se discute ou se fala na importância daquele local, como abrigo de diversas espécies e não apenas de sua beleza.


Figura 03 - Cataratas do Rio Iguaçu- Lado brasileiro
Fonte: CAMPANA, 2011

Caberia a um grupo de pessoas, dificultar de certa forma, a acessibilidade de pessoas a locais ditos da natureza, ou seja, de pertencimento de todos? Ou seria necessário perante nossa sociedade que tanto depreda as formas da natureza, que haja certo controle para haver maior conservação do mesmo?
Nós como seres humanos, seres naturais deste mundo, temos que primeiramente ter consciência de nossos atos, para que não necessitemos desses entraves quanto a acessibilidade de locais como este, sem deixar de entender claro as façanhas do capital para tirar proveito de algo, mesmo que este seja natural, da natureza e não lhe pertença.

Museu Guarani e Ciudad del Este

No segundo dia, podemos então visitar a cidade paraguaia de Ciudad del Este, onde primeiramente nos encaminhamos para um zoológico, localizado no Museu da Terra Guarani.

Figura 04 - Entrada do Museu da terra Guarani- Paraguai
  
Fonte: SILVA JUNIOR, 2013

Na visita ao zoológico, fica claro quando é que o homem age de fato com relação a natureza, muitas vezes tentando “protege-la”, mas nem sempre fazendo seu papel corretamente, afinal somos seres muito diferentes dos animais; se não conseguimos ser bons nem sequer com nossos semelhantes, o que dirá de animais que não podem reivindicar por atos contra eles?
Busca-se salvar a vida desses animais, deixando-os longe dos homens que possam lhes fazer mal, mas não estaria também este homem que o colocou em uma jaula com condições precárias de sobrevivência também aquele que lhe faz mal?
O zoológico o qual visitamos, apresentava animais de grande e médio porte, em jaulas pequenas e com mau cheiro. Isso não significa crueldade, pois muitos animais estão ali apenas até se recuperaram de armadilhas feitas pelo homem e poderem voltar a seu habitat natural, a mata. Mas, configura de certa forma, como nos sentimos seres superiores em relação a esses animais ditos irracionais. Uma bela onça-pintada enjaulada é senão a única forma que podemos admirá-la sem que nos tornemos sua presa, mas este não é seu habitat natural, e também não é de seu feitio ficar parada por horas, e receber alimento pronto sem que possa correr e lutar por tal alimento. É de certa forma, privar o animal de seus instintos naturais, seria pelo seu próprio bem? Protege-lo das atitudes humanas através de outras atitudes humanas?
Como podemos ver através das figuras 3 e 4, que apresentam a condição dos bichos no zoológica, condição a ser pensada e reflexionada por nós seres humanos.

Figura 05 - Onça Pintada
Fonte: SILVA JUNIOR, 2013


Figura 06 - Puma fêmea
Fonte: SILVA JUNIOR, 2013

Após o término da visita ao Museu, seguimos em uma van em condições precárias até o centro de Ciudad del Este. Local este onde se concentra grande atividade comercial desenvolvida tanto por paraguaios, brasileiros, como por comerciantes de diversas nacionalidades.
Quando o capital não visa o turismo, por exemplo, vimos quão grande é o descaso até com questões de higiene de certos locais. O centro por configurar um local de intensa movimentação de pessoas, carros, etc., concentra também muita sujeira, esgotos a céu aberto e um descaso até mesmo por parte da população local, que acaba de certa forma deixando “livre” para que turistas também depositem sua sujeira naquele local.
O que chama atenção neste local é também a ponte que liga a cidade brasileira a paraguaia, a chamada Ponte da Amizade. Uma construção antiga, sem infraestrutura necessária para receber a quantidade de pessoas que por ali passam todos os dias, e sem segurança para aqueles que passam andando pela ponte e podem ser empurrados a qualquer momento para debaixo da mesma.
É de se pensar, que um local que concentra uma grande atividade comercial também concentrará muito dinheiro obviamente. Porém, Ciudad del Este funciona muitas vezes como um local apenas de circulação de pessoas, mercadorias, de dinheiro e de produtos ilegais. Não concentrando, portanto, naquele local tudo que ali foi colocado, o dinheiro dos turistas, por exemplo.
Outro fato importante é a diferença que o capital juntamente com interesses menores, pode causar na paisagem. Como vimos no Parque do Iguaçu, há uma infraestrutura para receber os turistas, e um cuidado com o rio para sua melhor preservação, é o que não ocorre na porção do rio Paraná que passa embaixo da Ponte da Amizade. Sujeira na água, por dejetos de ambos os lados do rio, ou seja, um rio poluído que não é usado para o turismo, e sim para atividades noturnas ilegais que levam produtos ilegais para os dois lados da ponte.

Figura 07- Vista aérea da Ponte da Amizade
Fonte: Valacir


Usina de Itaipu

No dia seguinte, podemos então visitar a tão falada Usina de Itaipu a maior do Brasil, e em quantidade de energia gerada, do mundo.
No vídeo que nos foi apresentado pela Usina, fica claro como a Binacional Itaipu visa seus interesses maiores em função de uma minoria que acabou ficando com a pior parte deste grande investimento.
O vídeo prossegue dando ênfase as ações paliativas feitas pela Usina para tentar sanar os problemas causados por sua construção. Em uma das falas, destacou-se a importância que foi dada às espécies que ali se encontravam, quando da inundação para a construção da mesma. Mas, como sabemos quais garantias temos de que de fato milhares de espécies morreram em tal inundação, para dar vasão a um grande empreendimento do capital, requerendo o lucro máximo em função dessas vidas? É óbvio que devemos pensar além dessa explanação feita pelo vídeo da Itaipu, são negócios, interesses maiores, que não priorizam a vida animal e vegetal, e no caso dos índios que ali moravam, até de pessoas.
O vídeo reservava uma parte de sua exposição apenas para fala de “Consciência Ambiental”, e destacou entre outros: que, a energia hidroelétrica gerada em Itaipu, é a fonte de energia mais e limpa e também renovável do mundo, e que causa pouco impacto ao meio ambiente. Essa colocação já nos faz pensar como o interesse de uns vai à contrapartida a vida de outros. Essa afirmação parece-nos de tamanho egoísmo que devemos estar muito atentos para os chamados discursos ambientais, que em alguns casos pregam a conservação ambiental, mas que na verdade estão dando vasão a interesses econômicos, sem que haja de fato essa preocupação com o meio ambiente, é apenas uma forma de “mascarar” os reais objetivos por traz de tais discursos.
Foi destacado ainda, alguns programas a qual a Usina faz parte, como a recuperação da mata ciliar, replantando 40000 de árvores ao longo de seu reservatório; o programa “Cultivando Água Boa”, onde 1500 fontes foram nomeadas na bacia do rio Iguaçu, e instaurou-se um lema para a preservação da água boa do planeta: Novo modo de ser, consumir e empreender. Esses discursos já não são novidade no mundo já tão banalizado pelas práticas aviltantes do capitalismo, é claro que no mundo em que vivemos necessitamos de energia para vivermos, dado os confortos aos quais estamos acostumados, sendo a maioria advinda da energia elétrica; mas assim como pensamos em formas faraônicas, de projetos imensos, com finalidades maiores ainda, também podemos e devemos usar nosso conhecimento para o bem das minorias.
Ou seja, visar apenas um dado interesse, leva nossa sociedade cada vez mais ao egoísmo, fazendo com que muitos paguem por nosso conforto e comodidade.
A Usina também não nos possibilitou de fato uma visita técnica a suas dependências, o motivo, porém, não foi argumentado. O que pude então concluir através do pouco que vi e ouvi é que toda essa visita me fez refletir, como onde se há certo interesse econômico, veremos lugares belos e preservados, e quando a atividade turística não se interessa em desenvolver-se vimos o abandono e o descaso com a natureza, que diferente de nós não prioriza ou inferioriza quaisquer lugares.

Figura 08- Usina Hidroelétrica de Itaipu
Fonte: Haroldo Jr.

Porto Iguazú

No último momento da viagem, seguimos então para a cidade argentina de Puerto Iguazú, onde encontramos uma cidadezinha pacata, que oferece um comércio principalmente de comidas e doces típicos, e com uma estrutura melhor para o recebimento de turistas do que Ciudad del Este.

Figura 09- "Feirinha" em Puerto Iguazú- Argentina
Fonte: Haroldo Jr.

Figura 10-Comércio local de Puerto Iguazu
Fonte: Haroldo Jr.

No retorno a Londrina, podemos perceber como é heterogêneo nosso país, ou melhor, o mundo, singularidades naturais, e produzidas pelo homem num dado espaço, que configuram de forma única alguns locais.
O retorno estava previsto para as 22h00min, porém por questões circunstanciais houve um pouco de atraso, ocorrendo então a chegada a Londrina às 23h00min do domingo.
 A partir do que pode ser visto em campo, cabe pensarmos, nós futuros geógrafos, quanto o mundo é feito de heterogeneidades tamanhas, que requerem certo estudo para cada qual, devido suas singularidades em função de suas particularidades.
Podermos analisar autonomamente, os pontos que nos chamam atenção principalmente quando o assunto é o meio ambiente, é pré-requisito para que possamos exercer nossa profissão da forma mais correta, sempre analisando as contradições que o mundo nos apresenta, e claro também desfrutando das maravilhas que a natureza nos proporciona com um espetáculo natural e a céu aberto.


Ciudad del Este e análise da quadra

Zona Franca (comercial) de Ciudad del Este

É sabido que o grande fluxo de pessoas e mercadorias que ocorrem na região da tríplice fronteira é devido aos baixos preços dos produtos encontrados em território paraguaio, isso se deve a decisão do governo de eliminar as tarifas externas de exportação e diminuir os impostos de importação, para evidenciar isso temos:


A partir do plano de estabilização acordado com o Fundo Monetário Internacional em 1956, o governo paraguaio eliminou as tarifas externas de exportação, diminuiu os impostos às importações e implementou uma política de desenvolvimento industrial baseada em um modelo de substituição de importações (HANRATTY & MEDITZ, 1988). 

O que trouxe o interesse do capital internacional de se instalar no Paraguai, como medida para consolidar esse processo foi a "Ley de maquila" que transformou todo o território paraguaio em uma zona franca, vide:

Em 1997, o governo do Paraguai aprovou uma “ley de maquila”, nos moldes do modelo mexicano. Na prática, essa lei transformou todo o território do Paraguai numa zona franca. Segundo o Conselho Nacional da Indústria Maquiladora, em 2001, havia cerca de 200 empresas interessadas em se utilizar do novo mecanismo, envolvendo planos de investimento da ordem de US$ 250 milhões. (BRAGA et al. 2003, p.19)

Porém em Ciudad del Este ocorre um fato que é curioso, uma zona franca sem características de zona franca, mas sim de zona comercial, em 1995 de acordo com declarações de funcionários paraguaios a circulação de dinheiro obtida pelo comércio girava em torno de cerca de 15 bilhões de dólares por ano. Isso torna a cidade um dos principais centros comercias do mundo, perdendo apena para Miami e Hong Kong (RABOSSI, 2004).
Ciudad del Este é um caso especifico e difícil de se conceituar já que o comércio de exportação do Paraguai não possui uma característica específica (RABOSSI, 2004). Pode-se notar que Ciudad del Este (antiga Puerto Presidente Stroessner) teve seu desenvolvimento pautado numa série de leis e benefícios que agregadas a  sua localização criaram as condições necessárias para se consolidar o forte comércio presente no local e contribuem a desenvolver a economia do local.
 A cidade como já foi salientado, faz parte da Tríplice Fronteira, porém ela é apenas um das 9 que o Brasil faz parte. As tríplices fronteiras do Brasil são: com Paraguai e Argentina; com Uruguai e Argentina; com Bolívia e Paraguai; com Bolívia e Peru; com Colômbia e Peru; com Colômbia e Venezuela; com Guiana e Venezuela; com Guiana e Suriname e; com Guiana Francesa e Suriname (CAMPANA, 2011).

Figura 11 – Mapa das quadras

Fonte: adaptado por CARVALHO, M. S, 2013. 

A quadra 4, que se localiza a Casa China foi analisada de acordo com o que foi pedido: sua infraestrutura, a presença de lixos, a configuração espacial da quadra, o hibridismo cultural, comércio ilegal, entre outros elementos que enriqueceram a análise. Anotações na caderneta de campo e fotografias. O objetivo de cada fotografia é registrar e avaliar a qualidade da paisagem sob os seguintes elementos:

Infra-estrutura sanitária:


Áreas verdes: Cobertura vegetal existente e tipo.


Impermeabilização do Solo: incidência de área impermeabilizada e níveis de infiltração;


Organização espacial:


Infra-estrutura viária: Presença de rodovias caracterizada pelo porte de circulação de veículos e avenidas urbanas caracterizada pelo fluxo e porte;


Análise da Quadra
·         Presença de Lixo nas ruas;
·         Presença de Lixeiras;
·         Presença de poços.
·         Existência (ou não) de rede coletora de esgotos;
Presença de hidrômetros nos lotes indicando a distribuição de água tratada; Sistema de drenagem urbana – poços de visitas e sarjetas – e valas de esgoto, caracterizado pelo odor desagradável;
·         Largura das ruas;
·         Presença de meio-fio;
·         Loteamentos consolidados pela Prefeitura;
·         Alinhamento predial;
A quadra a ser analisada compreende as ruas Camilo Recalde ao norte, Coronel Toledo a leste, Avenida San Blás ao sul e rua Capitan Miranda a oeste

Figura 12 – Quadra "4" imagem de satélite

Fonte: Adaptado por SILVA JUNIOR, Haroldo José da. Extraído do Google Maps

Infraestrutura sanitária
Com relação à infraestrutura sanitária foi possível observar que não havia presença de lixo em umas das ruas no caso a Avenida San Blás (figura 13) e Camilo Reclade (figura 14), pois a partir das fotos tiradas no local foi possível notar apenas alguns panfletos jogados no chão que comparado ao número de pessoas circulando a quantidade era ínfima. Segue algumas imagens que esboçam o fato citado:

Figura 13– Infraestrutura sanitária
Fonte: SILVA JUNIOR, 2013

Figura 14 – Estrutura sanitária
                                                              Fonte: SILVA JUNIOR,2013.               

Porém não podemos afirmar se havia ou não lixo nas ruas Coronel Toleto e Capitan Miranda, pois não há registro fotográfico da mesma devido a atenção redobrada que devíamos ter com os carros, motos e pessoas, nessas duas ruas o tráfego era intenso, devido as análises dessas duas ruas serão apenas através da escrita.
Com relação às lixeiras, apesar da rua ser bem extensa não foi possível avistar nenhuma lixeira. A presença de lixeiras nas ruas seria algo imprescindível haja visto que o grande número de pessoas que circulam diariamente nessas ruas possui um potencial muito grande de produção de lixo, por exemplo: ao comer ou beber algo, uma lixeira seria interessante para o descarte das embalagens, ou em caso de algumas lojas que distribuem panfletos para fazer propaganda, muitas pessoas descartam os mesmos após dar uma breve olhada nas ofertas.

Existência de poços
Não foi possível observar se havia ou não poços no local.

Existência de rede coletora de esgoto
Não foi observado nenhum bueiro, nenhum local com esgoto a céu aberto ou mau cheiro oriundo dos dejetos jogados no esgoto.

Presença de hidrômetros:
Havia pelo menos um hidrômetro na rua (figura 15) San Blás, o que é de suma importância pois a concentração de lojas, shoppings, mesiteros, pessoas, carros e motos é muito grande nesse local e um hidrômetro se faz necessário para caso haja algum acidente e um edifício comece a pegar fogo, o hidrômetro em conjunto com a ação dos bombeiros pode evitar que o fogo se alastre e cause grandes prejuízos econômicos e estruturais para o local, fato esse que é agravado devido a presença de materiais que são propícios a propagação das chamas como: roupas, plásticos e papeis
.
Figura 15 – Hidrômetro
Fonte: SILVA JUNIOR, 2013

Sistema de drenagem urbano
Havia a presença de um sistema de drenagem muito comprometido (figura 16), pois havia muitos papeis e embalagens de plástico impedindo a passagem da água, o que compromete consideravelmente a drenagem em caso de uma eventual chuva. 

Figura 16 – Sistema de drenagem
Fonte: SILVA JUNIOR, 2013

Com relação às sarjetas, na quadra analisada havia dois tipos distintos de sarjetas, em uma parte da rua San Blás havia a presença de uma “sarjeta” elevada (figura 17), cerca de 1 metro de altura, fato esse que pode ser verificado a partir da seguinte imagem.

Figura -17 – Sarjetas altas
 
Fonte: SILVA JUNIOR, 2013

Já na Rua Camilo Recalde a sarjeta (figura 18) era como nas ruas de Londrina com uma largura razoável que permite as pessoas e carros circularem livremente, apesar de algumas pessoas andarem pelo meio da rua.
  
Figura 18 – Sarjetas baixas
Fonte: SILVA JUNIOR, 2013
Áreas verdes:
A quadra era bem arborizada em alguns pontos (figura 19), porém em outros pontos não havia árvore nenhuma, fato esse que pode ser observado na seguinte imagem:
Figura 19 - Áreas verdes
Fonte: SILVA JUNIOR, 2013

Impermeabilização do solo
Solo extremamente impermeabilizado, salvo os locais em que haviam algumas árvores plantadas, o resto do chão era todo coberto por concreto e asfalto, dificultando assim a vasão da água, o que pode ser um grande problema caso haja uma chuva torrencial há boas chances de se formar enxurradas dificultando o tráfego das pessoas e trazer prejuízos para os comerciantes locais (molhando mercadorias, falta de tempo hábil para desmontar as barracas e guarda as mercadorias sem que haja qualquer tipo de dano) e veículos.

Organização espacial:

Largura das ruas
San Blás por ser uma avenida possui uma largura um pouco maior que comportava o tráfego de carros e pedestres tranquilamente, fato que não acontecia nas outras ruas, na Camilo Recalde havia menor densidade de veículos circulando e os transeuntes utilizavam a rua e a calçada para levar as mercadorias.
Já nas ruas paralelas, Coronel e Capitan, era um caos, pois havia uma alta densidade de carros que tentavam cruzar a avenida em meio a pedestres e devido a largura muito pequena (comportava apenas 1 carro) o trânsito era muito complicado, haja visto que as calçadas também eram pequenas para o número de pessoas e os que portavam mercadorias um pouco maiores ou malas (como a senhora da figura 18) para levar o que tinham comprado, ajudavam a piorar a situação da rua, havia também motoqueiros (muitos sem capacete, moto sem placa e retrovisor) que tentavam a todo custo passar e buzinavam muito.

Presença de meio fio
Na rua San Blás em alguns pontos não havia (ou foram ocupados pelos mesiteros e lojas) como mostra a figura 20:

Figura 20 – Ausência de meio fio

Fonte: SILVA JUNIOR, 2013

Em outros pontos havia uma guia muito alta (cerca de 1 metro) como mostra a figura 21:

Figura 21 – Meio fio alto
Fonte: SILVA JUNIOR, 2013

Loteamentos consolidados pela prefeitura
Havia algumas casas como as mostradas na figura 17 que a julgar pela qualidade e local, não são fruto de invasão e nem aparentam estar na ilegalidade.

Alinhamento predial
Não havia um alinhamento muito bem definido, pois alguns letreiros de lojas eram altos, outros mais baixos e a vista como um todo, principalmente na San Blás, era comprometida pelos toldos das barracas dos mesiteros. 

Infraestrutura Viária
Como já foi citado, havia 3 tipos diferentes de infraestrutura viária, na San Blás era uma avenida, com grande fluxo de carros e pessoas, os carros trafegavam nos 2 sentidos, e era possível observar uma certa organização (para os padrões vistos em ciudad del este) no trânsito com semáforos e guardas orientando.
Nas ruas paralelas como já foi citado era um caos, ruas estreitas e com grande fluxo de carros e pessoas.
Na Camilo Recalde, o trânsito era mais tranquilo com poucos carros e pessoas trafegando com suas mercadorias em meio aos mesmos.

Reflexões Finais

A compreensão da Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai) vai além do uso do território e das relações de poder cristalizadas, ela não apenas se delimita por instâncias jurídico-políticas ou pelo arranjo físico do território, antes das fronteiras se concretizarem como limites territoriais elas se concretizam na mente e no coração das pessoas. Estamos a todo o momento erguendo fronteiras para minorias étnicas, minorias sexuais, culturais, entre outras.
A Tríplice Fronteira possui hibridismo culturais, minorias étnicas e grupos que vão desde aqueles legais até os ilegais, sendo que a análise sobre fronteira deve levar em conta todos estes aspectos.
O uso do território na fronteira se combina com as relações de poder cristalizadas que produzem o espaço e as atividades e o modo dos indivíduos se organizarem que dão forma nessa produção do espaço.

 A organização do espaço é parcelado, cada grupo se localiza em uma parte da fronteira e desenvolve um determinado tipo de atividade. A Ciudad del Este não possui apenas fronteira com o Brasil, mas na própria cidade, são fronteiras culturais, étnicas, fronteiras que delimitam o ilegal e o legal, além daquela que impera, que é a fronteira da desigualdade social.
Ao final do dia, todos fecham suas lojas, vão para a casa e muda de uma paisagem movimentada para uma que possui um ritmo lento de vida, mas amanhã é um novo dia, as pessoas voltam para a sua vida de comerciante, de “mesiteiros”, e buscam ganhar o difícil sustento no lugar em que muitos diziam ser a terra prometida.
Apesar dos problemas de infraestrutura e conflitos culturais observados ao longo do trabalho foi possível compreender que muitos já se enraizaram nos espaços de fronteiras e a identidade que se forma não são mais aquelas de paraguaios, brasileiros ou argentinos, mas muitas vezes de fronteiriços.

Referências

Braga, H. C. Critérios de Origem Aplicáveis às Zonas Francas, no Contexto da Integração Econômica. São Paulo: SUFRAMA/FGV, 2004.

CAMPANA, I. de C. Segurança e migrações na tríplice fronteira. 2011. Dissertação (mestrado em Relações Internacionais) - Universidade de Brasília, Brasília, 2011.

FEBVRE, Lucien. renohistória, mitos e realidadesRio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p. 20.
FERREIRA, M. Brasil e a guerra global ao terrorismo: percepções e erros de percepções sobre a área da Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai). Canadá:LASA, 2010

FOUCHER, M. Fronts et Frontières- un tour du monde géopolitique. Paris: Fayard, 1991.

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____. Árabes e Muçulmanos em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este: notas para uma reinterpretação. In: SEYFERTH, G.; PÓVOA, H.; ZANINI, M.C.; SANTOS, M. (Org.). Mundos em Movimento: Ensaios sobre Migrações. Santa Maria: Editora da Universidade Federal de Santa Maria, 2007, p. 287-312.

____. Nas ruas de Ciudad del Este: Vidas e vendas num mercado de fronteira, 2004. xv, 318f.: il.Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, 2004.

RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.

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SOARES, Washington Almeida. Negociação e hibridismo cultural no espaço missioneiro do Guairá pelos escritos de Antonio Luiz de Montoya (1609-1632). Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Foz do Iguaçu- 2012.

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