A Proposta do trabalho de campo foi a de
refletir sobre as diferenças territoriais e culturais presentes na Tríplice
fronteira. Realizado nos dias 7, 8 e 9 de junho, buscou-se a visita a três
cidade de três países diferentes, são estas Foz do Iguaçu (Brasil), Puerto
Iguazú (Argentina) e Ciudad del Este (Paraguai).
Pelas propostas das disciplinas de Geografia
do Brasil e Recursos Naturais e Educação Ambiental, buscou-se compreender a
dinâmica fronteiriça em vários aspectos indo desde seus confins históricos,
aspectos físicos até os aspectos sociais e econômicos que dinamizam a região em
estudo.
Introdução
O espaço geográfico não possui uma dinâmica
estritamente natural. Este deve ser analisado em sua totalidade pela dinâmica
social atuante no meio natural, ou seja, as funções exercidas pelas sociedades presentes
no espaço que atuam e que o modificam. Ao se apropriar da natureza e
transformá-la, o ser humano passa a produzir e a modificar o espaço geográfico,
utilizando as técnicas de que dispõem, de acordo com o momento histórico e de
acordo com suas representações, crenças, valores e interesses políticos e
econômicos.
Assim, cabe aqui analisar os componentes
deste espaço geográfico, ou seja, as ramificações ou fragmentos que compõem e
dinamizam o espaço em questão. Desta maneira há alguns conceitos básicos que
devem ser ressaltados para a abordagem do tema, tais como fronteira e
território.
Nesta análise procura-se relacionar os
conceitos citados acima com a dinâmica territorial da tríplice fronteira que
abrange as repúblicas federativas do Brasil, Argentina e Paraguai, objeto
central deste estudo. Assim nas abordagens a seguir, procura-se entender a
fronteira e o território da tríplice fronteira tendo em vista a história da
região desde os tempos das colônias espanholas, períodos de expansão jesuíta até
as colonizações mais recentes, abordando de maneira histórica o uso desse
território ao longo do tempo.
Busca-se aqui uma breve reflexão sobre os
vários conceitos de território e principalmente enfatizar os aspectos expostos
por diversos autores na abordagem do tema. Cada autor, dependendo da sua linha
de trabalho ou de suas concepções teórico metodológicas, enfatiza o território
segundo seus aspectos econômicos, físicos, políticos, culturais e outros, ou
ainda o entrelaçamento desses fatores para explicar o conceito e a dinâmica de
um espaço que está sempre em construção. (BORDO, et. al, p. 01)
Figura 01:
Mapa de localização da tríplice fronteira. Organização: ESCOBAR, N. A.
Algumas considerações sobre
as abordagens do conceito de território.
Para Claude Raffestin (1993), a abordagem do
conceito de território é feito de uma maneira conservadora, dando uma ênfase ao
território no contexto político-administrativo, ou seja, o território nacional
ou a delimitação de um estado, espaço físico onde se localiza uma nação ou um
espaço onde se delimita uma ordem jurídica e política.
É essencial
compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a
partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático
(ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço,
concreta ou abstratamente [...] o ator “territorializa” o espaço. (RAFFESTIN,
1993, p. 143).
Nesta abordagem, a concepção do território
está ligada as relações marcadas pelo poder, ou seja, a ordem político-jurídica
como o principal delineador do território. De uma maneira semelhante, Marcos
Aurélio Saquet remete a idéia de poder na discussão sobre território:
[...] as forças
econômicas, políticas e culturais, reciprocamente relacionadas, efetivam um
território, um processo social, no (e com o) espaço geográfico, centrado e
emanado na e da territorialidade cotidiana dos indivíduos, em diferentes
centralidades/temporalidades/territorialidades. A apropriação é econômica,
política e cultural, formando territórios heterogêneos e sobrepostos fundados
nas contradições sociais. (SAQUET, 2003, p.28)
Desta maneira, além das questões econômicas,
políticas e culturais, Saquet também considera a questão da natureza, que
sempre estará presente dentro do território. A natureza sempre estará no
território.
Claro que, nesta abordagem, não se pode
deixar de lado as contribuições deixadas por Milton Santos, que em várias de
suas obras, contribui na construção do conceito de território servindo de
grande valia para a Geografia brasileira. Procura-se nesta, a abordagem do
território em sua obra de 1996, onde há uma clareza na diferenciação entre
espaço e território.
Santos (1996) nomeia o território como
configuração territorial e define-o como o todo. Já o espaço é entendido como a
totalidade verdadeira, semelhante a uma relação entre a configuração
territorial, a paisagem e a sociedade. Assim:
Podem as formas,
durante muito tempo, permanecer as mesmas, mas como a sociedade está sempre em
movimento, a mesma paisagem, a mesma configuração territorial, nos oferecem, no
transcurso histórico, espaços diferentes. (SANTOS, 1996, p. 77).
Os espaços diferentes, as espacialidades
singulares, são resultados das articulações entre a sociedade, o espaço e a natureza.
Assim, na abordagem de Milton Santos o território poderá adotar espacialidades
particulares, conforme há o movimento da sociedade (nos seus múltiplos
aspectos: sociais, econômicos, políticos, culturais e outros). (BORDO, et. al,
p. 07)
A concepção de Santos (1996) aparenta a
priori, uma abordagem mais completa sobre território, pois este aborda além das
concepções políticas e jurídicas, as relações sociais históricas como
causadoras e delineadoras do território, caracterizando-se os espaços e territórios
quanto ao seu processo histórico.
Do território as fronteiras:
algumas considerações
Partindo das abordagens sobre território,
cabe nesta parte analisar e construir uma abordagem sobre a fronteira que
condiz com a realidade territorial da tríplice fronteira. Assim, o conceito de
fronteira aqui proposto, parte da análise feita por Luís Sérgio Duarte onde,
dentre as várias abordagens, prioriza a denominação da fronteira como sendo
construções, processos social e historicamente produzidos. Assim, as fronteira:
Devem ser concebidas
mais como abertura e atualidade, do que como dado ou acabamento. São locais de
mutação e subversão, regidos por princípios de relaüvidade, multiplicidade,
reciprocidade e reversibilidade. São lugares que deixam claro a validade da
máxima bachelardiana "Longe de ser o ser a ilustrar a relação, é a relação
que ilumina o ser". (DUARTE, 2005, p. 17)
O
autor ainda salienta que fronteiras são sítios da exacerbação e do excesso,
onde limites são ultrapassados, novas dimensões descobertas, e reordenamcntos
encaminhados. Por isto, são espaços de ruptura e conflito: ambientes de
extremidade, crista e culminação. Elaboram originalidade pela via da
multiplicação da experiência.
De
modo geral parte-se da idéia que fronteira é o limite que divide duas partes,
dois territórios porém se voltarmos aos conceitos de território, estes mostram
que além da divisão política o território baseia-se nas relações sociais com o
espaço. Assim para constata-se que o território, por ser fruto de tais
relações, não se limita as fronteiras, ou seja, é possível que haja vários
territórios dentro de uma fronteira e várias fronteiras dentro de um mesmo
território.
A
fronteira nordeste Argentina: os limites com o Paraguai e Brasil.
A
demarcação da fronteira com o Paraguai, na vasta região conhecida como el Cacho Boreal – que em um primeiro
momento abarcava as províncias do Chaco e Formosa na Argentina e o centro do
Paraguai – relaciona-se com a guerra que Brasil, Argentina e Uruguai mantiveram
contra o Paraguai, desde 1865 até 1870. Esse acordo entre os três países ficou
conhecido como Tratado da Tríplice Aliança, e tinha por objetivo a substituição
do governo Paraguaio vigente por outro que aceitara os limites fronteiriços
impostos pela aliança.
O
Brasil acabou por negociar separadamente suas pretensões quanto a posse de
Terras. Em 1876 a Argentina opta por um tratado de Paz que reconhecia a
soberania Argentina sobre o território del
Chaco Boreal. Em troca o Paraguai ganha áreas mais ao norte do rio verde,
região que atualmente faz fronteira com o Estado do Mato Grosso do Sul.
A
questão dos limites e fronteiras entre Argentina e Brasil possui grandes
indicativos na época colonial. Essa região em específico era uma região
estratégica para contato com Espanha e Portugal, devido a navegação nos rios
Paraguay, Uruguai em direção ao Rio da Plata, principal conexão fluvial em
direção ao Oceano Atlântico. Portanto a disputa jurídica dessa região é tão
antiga quanto o descobrimento das mesmas.
Como
herança desse conflito secular, organiza-se esta parcela do território, ocupada
em um primeiro momento pelas missões jesuítas Guaranis. No papel, a região das
missões jesuítas foi concedida juridicamente a Argentina como Território
Nacional de Missiones. Posteriormente em 1889 submete-se a questão da divisão
das terras para os Estados Unidos na América que em 1895, favoreceu a posição da
divisão das terras ao Brasil.
A
Província de Missiones.
A
província de Missiones é um território com áreas densamente povoadas vinculadas
a agricultura para fins industriais (erva mate, chá, arroz, frutas cítricas,
tabaco), e atividades florestais, relacionadas principalmente a áreas de
vegetação nativa, despovoadas ou em processo de povoamento.
Nos
territórios vizinhos do Paraguai e Brasil de desenvolvem importantes áreas
agrícolas (Soja e Arroz) e áreas florestais, que consequentemente possuem zonas
de alta densidade populacional, como no caso de Foz do Iguaçu.
As
áreas em processo de expansão são aquelas mais próximas aos limites com
Paraguai e Brasil e nos chamados litorais dos rios Uruguai e Iguaçu. Nestas
áreas a selva é utilizada para fins extrativistas principalmente por famílias
que vivem da agricultura e indústrias de papel e madeira que substituem a
vegetação natural por espécies não nativas.
As
missões jesuítas guaranis.
Nas
muitas ações empreendidas pela companhia de Jesus na América, a experiência das
missões guaranis se destaca. O que padres e missionários levaram a cabo é o que
hoje é conhecido como em parte a República Federativa do Paraguai. Essas
missões podem ter trazido aspectos positivos e negativos àquele espaço
geográfico.
A
Companhia de Jesus entre 1767 e 1768 documentou trinta povoados guaranis, no
qual já não se encontravam em seus locais de origem, pois em 1609 já houve as
primeiras tentativas de missões na região.
Para
um melhor entendimento do assunto, ressaltam-se as condições geográficas no
quais os povoados guaranis se encontravam. O clima da região é o subtropical
úmido, sendo mais agudo ao norte nas fronteiras com Mato Grosso do Sul, onde se
encontrara o primeiro grupo das missões.
O
‘pai’ dos rios, o Paraná organiza o território com seus afluentes sendo, também
a principal via de comunicação desse amplo espaço que hoje engloba Brasil,
Argentina e Paraguai. Como consequência dessa vasta riqueza hídrica e clima
úmido têm-se uma vasta e densa selva na região.
Dentro
destas condições físicas dava-se lugar a vida dos grupos Guaranis que se
assentavam por curtos períodos de tempo nas beiras dos cursos d’água, porém não
eram considerados nômades, pois migravam a cada dois ou três anos dentro do
território. Nas aldeias as moradias eram em números reduzidos e próximos uma
das outras, e com certa proximidade de aldeias semelhantes.
Figura 02:
Caminho percorrido pelo Padre Antonio Ruiz com cerca de 12.000 índios. Fonte: JANETE, B.
As
missões, que se iniciaram a princípio na Zona do Guayrá nos primeiros anos do século XVII não alteraram esse tipo de
organização dos assentamentos nem sua configuração social, apesar de que para
os jesuítas não foi fácil entende-los e estimar a toda a magnitude de suas
características.
Em outras regiões próximas a Assunção se
estabeleceram missões entre 1631 e 1638 se produziram migrações que levaram
para o Sul aos diversos grupos guaranis que desembocam nas áreas próximas aos
rios Uruguai e Paraná e com um clima não muito diferenciado de suas posições
anteriores. Forma-se então um território dividido em três faixas quase
paralelas de terrenos quebrados com constante abundância de água.
Essa
região é atualmente conhecida como região “missioneira”, foi a que acolheu a
experiência de reduções jesuíticas guaranis. Por razões de força maior, as
missões jesuítas migraram em direção a nova região missioneira dos rios Paraná
e Uruguai.
A
dinâmica de migração na região em questão gerou áreas de alta concentração
populacional principalmente nas capitais do Paraguai (Assunção) e da Província
de Missiones (Posadas) bem como na região da Tríplice Fronteira, área que
atualmente apresenta os maiores índices de crescimento populacional.
Figura 03:
Principais missões jesuítas: Fonte: VIÑUALES,
G. M.
Oeste Paranaense: fatores históricos
formadores de tal território
Como
já colocado, na formação do território missioneiro o meio físico teve alta
influência na divisão fronteiriça dos países, províncias, estados e municípios.
Assim entende-se como oeste paranaense, o território compreendido entre os rios
Guarani, Iguaçu, Paraná e Piquiri.
Tem-se
em vista que, devido a na região da fronteira e a concentração também na
capital paranaense, a colonização do oeste paranaense foi tardia e impulsionada
pela produção agrícola. Em um primeiro momento a ocupação da região fronteiriça
pelos argentinos e não pelos brasileiros, devido a dificuldade física no acesso
a essa região.
Ao
longo da abertura de picadas para exploração da região, foram encontrados
grupos de trabalhadores que exploravam a erva-mate. Índios paraguaios, a
serviço de ervateiros argentinos que predavam as riquezas brasileiras. (WACHOWICZ,
2010)
Havia
colonos na região que ganharam lotes de terras nos domínios da colônia e tinham
por obrigação principal, produzir agricultura de subsistência. Aqueles que
abandonavam as colônias ou não se submetiam a esse sistema abandonavam a
colônia e passavam a viver da produção da erva mate e do extrativismo
madeireiro. De maneira geral, todas as mercadorias consumidas em Foz do Iguaçu
vinham da Argentina, tais como alimentação, vestuário, móveis, bebidas e etc.
Havia o problema da malária, um dos principais problemas que assolaram a região
na época.
Em
1888 instala-se a colônia militar de Foz do Iguaçu, devido a posição
estratégica da tríplice fronteira, tanto na questão das terras quanto na
questão das riquezas naturais e diversidade de rios. Assim, a política adotada
era a de fortalecimento do que era chamada de fronteira guarani.
Nas
primeiras décadas do século XX, a erva mate era o principal motor da economia
paranaense. Na região oeste a produção era feita no interior dos ranchos, e dos
ranchos era transportada via estradas de não pavimentadas por caminhões até o
porto de embarque. Era comum que essa produção fosse escoada de maneira ilegal,
ou seja, contrabandeada para fora do país alegando que a produção seria advinda
do Paraguai ou de Mato Grosso do Sul.
Na
década de 1930, houve uma queda nas exportações da erva mate devido à produção
Argentina de erva mate ter se concretizado na região de missiones, assim já não
havia mais a necessidade por parte da Argentina em importar erva mate
brasileira. Como substituto econômico, alguns produtores brasileiros optam pela
exploração da madeira. As obrages chegaram a explorar madeira até a 100
quilômetros das margens do rio Paraná. Na margem do rio eram depositadas as
toras de perobas, canelas e derivados da região.
A
falta de população brasileira no oeste ocasionava o predomínio quase qe
completo de populações guaranis e argentinas. A revolução de 1924 começou a
revelar ao Brasil o que estava ocorrendo no oeste paranaense. Tanto os oficiais
rebeldes como os legalistas passar a discutir o assunto. (WACHOWICZ, 2010)
Os
argentinos eram de certa forma donos dos modos de produção e dos meios de
produção e os paraguaios detinham a mão de obra barata. Assim, o capital e o
gaúcho e o governo federal tinham a intenção de adquirir terras para
especulação imobiliária devido a política de ocupação do território paranaense.
Estes gaúchos vieram também devido ao excedente de mão de obra na produção
agrícola gaúcha, levando consigo os meios de produção já mais modernos que o da
região oeste paranaense.
Assim,
os gaúchos ganham poder político econômico nesse contexto, ainda somado a
entrega de terras por parte do governo federal vigente, Getúlio Vargas, para
gaúchos na região oeste paranaense.
Como
fortalecimento da região, tanto no contexto político quanto militar da época,
cria-se a usina de itaipu, que localizada num trecho de fronteira do Rio
Paraná, a usina hidrelétrica de Itaipu começou a ser pensada ainda na década de
1960, quando foram assinados os primeiros acordos de cooperação entre Brasil e
Paraguai. As primeiras pesquisas de campo para a elaboração do projeto foram
feitas em pequenas balsas por técnicos brasileiros e paraguaios. O local
escolhido para a construção foi um ponto do rio conhecido como Itaipu, que em
tupi quer dizer "a pedra que canta". (IPEA, 2007)
A
formalização do empreendimento se deu com a assinatura do tratado de 1973, que
estabeleceu os pontos para o financiamento da obra e a operação da empresa, num
modelo de sociedade binacional, pertencente às duas nações em partes iguais.
Pelo documento, cada um dos países tem direito a 50% da energia produzida. Caso
uma das partes não use toda a cota, deve vender o excedente ao parceiro a preço
de custo. (IPEA, 2007)
Atualmente
a Usina de Itaipu, abastece a totalidade da República Federativa do Paraguai e
abastece as regiões sul e centro oeste brasileiras, abrangendo os estados do
Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul segundo dados coletados em campo.
Resultados
As sínteses abaixo referem-se aos textos
de Fernando Rabossi, que nos traz reflexões sobre as fronteiras entra Brasil,
Paraguai e Argentina com alguns apontamentos históricos relevante sobre o tema.
Ciudad
Del Este: Mercado transnacional de fronteira
Fundada em 1957 no período da ditadura
com o nome de Puerto Presidente Stroessner hoje chamada de Ciudad Del Este teve
o intuito de ligar a região central do Paraguai com a costa atlântica
brasileira, essa ação foi combinada em ambos os países não só com o objetivo da
ligação entre os países mas também outras questões políticas.
A construção da ponte da amizade em 1965
permitiu o desenvolvimento do comercio na fronteira com a presença de árabes de
acordo com Rabossi, 2004 do lado brasileiro as lojas de produtos brasileiro
começaram aos poucos a substituir os produtos argentinos do mercado interno
do Paraguai.
Os artigo importados ganharam força no
Paraguai, devido aos baixos impostos comparando com o dos países vizinhos, isto
acabou sendo um atrativo comercial para os turistas de todo o mundo pois devido
a alta atividade turística ocasionada pelas Cataratas o comercio só ganha. Como
o aumento do comércio na fronteira as lojas não eram suficiente para suprir as
relações comercias, sendo assim surge os vendedores de rua.
Nos anos 70 a guerra no oriente médio fez
com que o fluxo de imigrante árabes passasse
a ser maior, além da construção da usina hidrelétrica de Itaipu. Fatos
que colaboraram para as transformações políticas, econômicas e sociais na
região A partir do crescimento comercial
que é continuo na fronteira devido a essas transformações, a produção asiática
e chinesa passam a fazer parte da oferta de produtos no Paraguai.
Nos anos 90 ocorreu uma decadência no
comercio da região devido a política de redução dos impostos para importação do
Brasil e Argentina (MERSUL), fazendo muitos comerciantes emigrem para outros
lugares.
Mesiteros
O vendedores de rua, chamado de mesiteros são
uma das características de Ciudad del
Este, eles ocupam as calçadas podendo ficar permanentemente ou temporariamente.
Além de Mesiteros é possível encontrar vendedores ambulantes que circulam pelas
ruas com suas mercadorias, também existem os denominados cajas (antigos
mesiteros) que utilizam estruturas metálicas e fixas na ruas. Segundo Rabossi,
2004 a vantagem de um local fechado durante um horário não comercial é que os
mesiteros não precisa desmontar o posto diariamente, ou seja as mercadorias
podem ficar no local.
A possibilidade da rua
No início era vendido artigos artesanais do
Paraguai ou artigos importados carregados em caixas porém os vendedores de rua
eram perseguidos pela polícia e quando pegos tinham suas mercadorias
apreendidas, essas ações da polícia e do governo não coseguiram afastar os
vendedores das ruas, fazendo com que ao passar dos anos as autoridades
aceitassem a presença deles. A partir disso surgiram associações para criar regras
com intuito de organizar os vendedores de rua.
No fim da construção da Itaipu da década
de 80 mais pessoas queriam começar a vender nas ruas, surgindo novos acordos
para novas associações dos trabalhadores de rua. Como consequência surgiram
novas atividades necessárias para o funcionamento do local como taxistas,
cambistas, carregadores, empregados do comércio.
Um Mundo de Vendas Para ''Turistas''
Para que os turistas consigam achar o que
procuram a Ciudad Del Este oferece lojas, galerias, Shopping centers, autos serviços além dos vendedores de rua.
Os autoservices são supermercados de
produtos onde o comprador passa com seu carrinho, escolhe e pega os produtos
por si mesmo. A mercadoria é exposta em prateleiras e os preços são públicos. A
aparição e expansão dos autoservices supôs a massificação das vendas de
determinados produtos associada à figura do sacoleiro. (RABOSSI, 2004, p. 167)
Segundo Rabossi (2004) na segunda metade
da década de 80 Ciudad Del Este passou a ser um lugar de compras para milhares
de compradores que começaram a ganhar a vida através da compra - venda das mercadorias lá
oferecidas.
A valorização dos mesiteros pode ser
explicada pelo motivo de que através das informações das melhores ofertas e
oportunidades com os comerciantes e importadores alguns sacoleiros passaram a
fazer encomendas, fazendo com que os mesiterio capitalizassem e aumentassem
significativamente suas rendas.
Na década de 90, ocorreu o aparecimento
de novos comerciantes (chineses) com novos produtos e novas taxas de lucro
proporcionando os primeiros Auto serviços, ocasionando novas migrações dos
comerciantes para o Brasil e América Latina.
Dimensões das Espacializações das Trocas
Hoje o foco principal da Ciudad Del Este são
os sacoleiros que buscam suas mercadorias para a revenda. Uma vez que essa
cidade possui Lojas, shoppings, galerias, auto serviço, e vendedores de ruas,
ela se torna o espaço de compra - venda.
RABOSSI, F. Dimensões da espacialização das trocas - a propósito de mesiteros e sacoleiros em Ciudad del Este. Ideação (Cascavel), Foz do Iguaçu, v. 6, n.6, p. 151-176, 2004.
Devido a presença de árabes na tríplice
fronteira pensa-se em terrorismo, o texto de Rabossi abaixo trará informações
referente ao assunto.
O Cenário
Figura
04:
Localização das cidades de Foz do Iguaçu, Ciudad Del Este e Puerto Iguazu. Fonte: Google Maps (organização
Vinícius Kojicowski da Silva)
De acordo com Rabossi (2007), a ponte da
amizade une as Cidad Del Este (Paraguai) com Foz do Iguaçu que estão separadas
pelo rio Paraná. Enquanto a ponte Tancredo Neves une Porto Iguaçu (Argentina)
com a cidade de Foz (Brasil).
Ciudad Del Este é muito importante para o
país pois é a segunda cidade em importância demográfica e econômica, com isso
se torna dona de uma quantia significante da energia de Itaipu. Já em Foz do
Iguaçu sua dinâmica é diferenciada, o foco maior é a atividade turística devido
a beleza das Cataratas que atrai turistas do mundo todo. Puerto Iguazú é a
menor cidade das três já citadas, sua economia se assemelha com a de Foz do
Iguaçu pois ela também se utiliza das quedas das cataratas do lado argentino.
De mascates a comerciantes
No final do século IXX à uma empresa
privada de exploração de erva mate e madeira foi concedida terras paraguaias. O
exército brasileiro em 1889 criou uma colônia militar de Foz do Iguaçu, após
essa colônia, já no século XX iniciou-se Puerto Aguirre, formando o lado
argentino.
O movimento daquela região foi
estruturado pelos países Brasil e Argentina, porém, o presidente paraguaio
Stroessner assume uma política de relações com o Brasil. Em 1965 a ponte da
Amizade é construída juntamente com a Usina de Itaipu em 70.
Muitos comerciantes acabaram por ir á
fronteira para levar produtos brasileiros ao Paraguai a partir da construção da
ponte, foi então que os primeiros imigrantes árabes atingiram a cidade de Foz
do Iguaçu. Porém antes dessa chegada havia a existência de mascates na região,
Mohamed Osman chegou em 1952 "mascateando" pelo norte do Paraná,
levando em uma maleta roupas, estabeleceu-se em 1952 na cidade de Foz do
Iguaçu, iniciando sua carreira comercial (têxtil Osman) e representante da
Kraft Suchard.
De comerciantes a exportadores e
importadores
O comércio nas fronteiras tem se tornado
muito importante para as cidades. Segundo Rabossi (2007) o comércio trazia
oportunidades nas cidades fronteiriças
como Chui e Foz do Iguaçu no Brasil; Encarnacion e Ciudad Del Este no Paraguai;
ou Maicao na fronteira entre Colômbia e Venezuela.Do lado brasileiro a produção
vendida é brasileira, no restante os produtos são importados, essa relação gera
um fluxo que constitui um atrativo para imigrantes árabes chegando a América
Latina na déc. de 70 e 80.
No final dos anos 60 os árabes abriram
lojas e importadoras no Paraguai devido a incentivos políticos na importação e
facilidades para comerciantes estrangeiros. Levando em consideração a história
do Líbano, em 1975 deu-se a guerra no país, solidificando a presença dos
comerciantes árabes na fronteira.
Além do comércio: números e instituições
A ocupação por povos árabes não ficou
restrita somente a comerciantes mas sim, especificamente na década de 80,
importadores/exportadores, até mesmo vereador, deputado, membros de conselhos,
e instituições locais em ambos os lados da fronteira Paraguai - Brasil.
História e política: a necessidade de
outras narrativas
Desse modo a tríplice fronteira Brasil -
Paraguai - Argentina mostrou ser um lugar muito atrativo para fixação de
imigrantes, pelas oportunidades de se trabalhar com o comércio e serviços, a
população árabe após ser inseridos nesse fluxo comercial, hoje assumiram outros
papéis (importadoras, exportadoras, políticos, conselheiros) provando que a
presença de tal povo se faz não em cima de terrorismo, mas sim na evolução
gradativa da região nas questões políticas, sociais e econômicas.
Museu da Terra Guarani e Zoológico
No dia 08 de julho de 2013
visitamos o Museu da Terra Guarani, na cidade de Hernandarias aproximadamente
10km da Ciudad del Este. O museu foi aberto ao público no ano de 1979, com o
objetivo de instrumentar a educação ambiental da Usina de Itaipu na margem
paraguaia e também ter o conhecimento sobre a cultura do povo guarani. “Mais de
90 mil visitantes passam pelo Museu da Terra Guarani anualmente” (USINA
BINALCIONAL DE ITAIPU, 2013).
Figura
05
- Museu da Terra Guarani
Fonte: http://jie.itaipu.gov.br/print_node.php??secao=turbinadas1&nid=21196
O museu apresenta acervos
arqueológicos e exemplos da fauna regional recolhidos na área da represa. No
ano 2000 o prédio ganhou uma reforma que o modernizou totalmente, o Jornal de
Itaipu Eletrônico (2013), “[...] com
nova climatização, sistema de alarme, monitores de plasma, microcinemas e uso
de legendas em quatro línguas – espanhol, guarani, português e inglês”.
O museu conta com a
exposição dos 200 anos de Povos Milenares, contando a história dos povos que já
habitavam a região por mais de 10 mil anos.
Por trás do Museu da Terra
Guarani existe um zoológico que também visitamos, com animais resgatados
durante a construção da Usina Binacional de Itaipu, outros encontrados perto do
museu, resgatados de circo e lugares inapropriados para o seu desenvolvimento,
não que o zoológico seja o local apropriado para eles viverem, mas ali eles
podem ser cuidados por especialistas e ter uma perspectiva de vida maior do que
em algum circo por exemplo. Encontramos animais como onças, jacarés,
tartarugas, pumas, cobras, araras, tucanos, etc.
Figura
06 –
Onça Pintada descansando em uma das jaulas do Zoológico
Fonte: BERTINI, Isabelle
Teixeira (2013).
Apesar de contar com
especialistas, o zoológico deixa a desejar em alguns aspectos que observamos na
visita, como as jaulas para animais grandes que é muito pequena, eles não
conseguem correr ou praticar atividade física que é o apropriado para os
mesmos. Outra coisa que choca são alguns cativeiros de cobras, elas ficam em um
lugar junto a suas presas que não como se defender, convivendo diariamente com
sua possível morte, pois dorme junto ao seu predador ou não dorme pelo mesmo
motivo.
Construção da Zona Franca e a Dinâmica da Zona Comercial de Ciudad del Este
Construção da Zona Franca e a Dinâmica da Zona Comercial de Ciudad del Este
A Ciudad Del Este (Cidade do
Leste) foi criada no ano de 1957 por decreto presidencial, Alfredo Stroessner
era o general que ocupava a vaga de Presidente do Paraguai de 1954 até 1989.
Stroessner foi totalmente favorável a integração entre o Brasil e Paraguai,
apoiando a imigração brasileira para o Paraguai e também sustentou a ideia de
projetos do governo do Brasil, como o acesso ao mar via Ponte da Amizade
(término da construção 1965) e a BR-277, além do projeto da Itaipu.
Ciudad del Este é a segunda cidade do
Paraguai em termos econômicos e, pelo menos até metade dos anos 90, foi uma das
principais cidades comerciais da América Latina segundo alguns observadores do
mundo. Localizada a beira do rio Paraná onde se encontra o limite internacional
que separa Paraguai e Brasil, Ciudad del Este é vizinha da cidade brasileira de
Foz do Iguaçu com a qual se encontra ligada pela Ponte de Amizade. (RABOSSI,
2004, p. 152)
Em 1979, por incentivos
econômicos para a cidade, a zona franca foi criada, atual terceira maior do
mundo, abaixo apenas de Miami e Hong Kong. A Ponte da Amizade (Figura 07) que
liga o acesso entre o Paraguai e Brasil, gera um fluxo enorme de pessoas por
meio de automóveis, ônibus, motocicletas e até alguns que se arriscam ir como
pedestre, correndo alguns riscos por não ter muita segurança, determinadas
passagens não tem alambrado e a mureta não tem aparenta ser bem reforçada,
facilitando a queda no rio.
Figura
07
– Ponte da Amizade
Fonte:
http://www.gazetamaringa.com.br/online/conteudo.phtml?id=1297160
Segundo Rabossi (2004), com
a inauguração da Ponte da Amizade (1965) duas áreas comerciais foram criadas,
uma do lado brasileiro e a outra no território paraguaio. Os precursores de
comerciantes nestas áreas foram os árabes, junto aos mascates. Muitas desses
árabes instalados em Foz do Iguaçu expandiram seu comércio para o lado
paraguaio, junto aos que fugiam dos conflitos no Oriente Médio, como o inicio
da guerra do Líbano e da invasão israelense.
A zona franca é “invadida”
todos os dias às cinco da manhã, lá se encontra muitos produtos abaixo do preço
normal do Brasil, como por exemplo, eletrônicos, brinquedos, roupas, entre
outras coisas, caracterizando como um lugar que aglomera pessoas e um trânsito
muito caótico, deste modo RABOSSI (2004) faz uma breve descrição do local:
Assim como as cordas que sustentavam
os toldos e os galhardetes no microcentro de Ciudad del Este formavam um denso
emaranhado sobre as bancadas de milhares de vendedores e vendedoras instalados
em suas ruas; também os sons e os odores, as imagens e os movimentos de todos
os que ganhavam sua vida por aí formavam densas redes que lhe davam o tom
particular a esse imenso espaço comercial localizado à saída da Ponte da
Amizade que liga o Paraguai ao Brasil. (RABOSSI, 2004, p. 17).
Como uma das maiores zonas
francas do mundo, esta zona comercial da Ciudad Del Este caracteriza
a circulação do capital transnacional, recebendo moeda como real, dólar,
guarani, peso, entre outras, de brasileiros, argentinos, árabes, paraguaios,
chineses, etc. FILHO (2012, p. 88) afirma que:
O comércio de Ciudad del Este conta
com aproximadamente 10 mil estabelecimentos formais, além de milhares de
vendedores de rua (os meseteros). O dinheiro movimentado pela cidade é vital
para a economia do Paraguai. A antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, com base em
dados da Receita Federal do Brasil, revela a dimensão do contrabando na
economia paraguaia: “[...] somente o que sai do Paraguai e entra no Brasil em
mercadorias corresponde a um valor que pode alcançar até 50% do PIB
paraguaio[...]” (PINHEIRO-MACHADO, 2011, p. 128).
No trabalho de campo
conseguimos evidenciar que o consumir mais entrado foi o brasileiro, a maioria
procurando por produtos mais baratos, com isenção de impostos ou sem impostos
abusivos, como eletrônicos, bebidas, cosméticos, roupas, etc. Infinitos
produtos para serem comercializados, desde que não exceda a cota de US$ 300 por
pessoa, outras restrições como só é possível levar 12 litros de bebidas
alcoólicas, mercadorias abaixo de US$ 5 podem ser comprados até 20 unidades,
sendo dez idênticos, pneus sempre são taxados, entre outras regras que a
Receita Federal impõe.
A grande movimentação de
pessoas, mercadorias e de modo óbvio que circulação de dinheiro é muito grande,
entretanto a facilidade de obtenção de armas e vários tipos de drogas ilícitas
potencializam seu contrabando. Assim como Filho (2012, p. 88) assegura que
“[...] redes aeroportuária, portuárias e viária são utilizadas por organizações
criminosas que executam os três tipos de trafico que geram lucratividade no
mundo: armas, drogas e pessoas.”
Conseguimos confirmar todas
essas facilidades de compras de drogas e armas no trabalho de campo, muitos
vendedores de rua vem até você para lhe oferecer os produtos que vendem como
pen-drive, roupa, pequenos aparelhos eletrônicos, porém a maioria começa a te
aliciar com um tempo de conversa, oferecendo drogas, armas, prostitutas e
outras atividades comerciais, realmente potencializando esse comercio ilegal.
Com olhares aguçados sobre
toda essa paisagem conseguimos observar o que Filho (2012) chama de contrabando
formiga praticado por centenas de brasileiros que moram em Foz do Iguaçu,
muitos sustentam suas famílias dessa forma, atuando como “sacoleiros” e
“laranjas”. Eles servem de ponte para contrabandistas que sonegam impostos,
levando quantidades de mercadorias do lado paraguaio para o lado brasileiro o
dia inteiro, em troca de dinheiro pelo seu serviço de transporte. FILHO (2012,
p. 89):
Outro tipo de crime muito comum na
área da Ponte da Amizade é a falsificação de documentos. Tendo em vista o
limite de compras de 300 dólares a cada 30 dias, por pessoa, muitos
atravessadores de mercadorias (conhecidos como laranjas) se valem dessa
estratégia, como atesta Rosana Pinheiro-Machado: “Alguns (laranjas) que eu
conhecia chegavam a ter cerca de 10 carteiras de identidade para mostrar na
Receita Federal [...]” (PINHEIRO-MACHADO, 2011).
Figura 08 - Shopping Monalisa
Fonte:
http://excursoespr.blogspot.com.br/p/excursao-paraguai_17.html
A presença de shoppings
também é algo chamativo no comércio da zona comercial, neste caso (Figura 08) o
Shopping Monalisa é um dos mais conhecidos e frequentados pelos comerciantes.
Segundo Rabossi (2004, p. 59), o grande empresário libanês Faisal Hammoud
estabeleceu seu comércio, o shopping center Monalisa na Ciudade del Este em
1995, junto ao grupo monalisa. Nestes shopping conseguimos observar que o
cuidado é muito diferente do que o comercio nas ruas, com os espaços limpos,
lojas de empresas conceituadas no mundo inteiro, preços acima do procurado,
restaurantes mais organizados e a recepção do atendimento bem mais sofisticado.
Figura
09
– Comercio na Ciudad del Este
Fonte:
http://www.blackfriday.com.br/black-friday-paraguai-2/
Podemos evidenciar que na
imagem (Figura 09) acima a quantidade de comercio, pessoas, veículos, possui uma
infraestrutura baixa e nível de organização desordenado. Pedestres e carros
circulando no mesmo espaço, sem respeito de nenhuma das partes, podendo ocorrer
algum acidente ou brigas de trânsito, tanto verbais até corporais.
A quantidade de cabos de um
lado para o outro é um tanto quanto confuso, muitos improvisos para ligação
elétrica, de rede de internet ou sabe lá qual seja a finalidade de alguns cabos
embolados, que com certeza não existe uma fiscalização por parte de alguma
instituição pública, gerando desorganização e péssima estética visual por
várias ruas da zona franca.
Portanto, ao considerar
alguns pontos elencados no trabalho de campo que a dinâmica da Ciudad del Este
e Foz do Iguaçu vai muito além de uma amizade na fronteira entre os dois
países, a circulação de pessoas, mercadorias legais e ilegais, automóveis e
principalmente a movimentação do dinheiro mostra que os interesse econômico é o
que move tudo isso, misturando não só brasileiros e paraguaios neste território
de dois países, mas também de chineses, árabes, argentinos, entre outros povos
que estabelecem relações nesta fronteira.
Análise
da Quadra 1
Localização:
Figura
10:
Mapa da zona comercial de Ciudad Del Este no Paraguai.
Fonte:
Google Maps
Figura
11:
imagem de satélite da quadra 1 – Fonte:
Google Earth
Na observação da qualidade
de infraestrutura sanitária da quadra 1, foi possível perceber nitidamente que
não existe uma organização e muito menos uma educação para manter as ruas
limpas. No momento em que visitamos a quadra 1, as ruas se encontravam com
muito lixo amontoados em sacos de lixo,
e também espalhados pelas calçadas e no meio da rua, e essa quantidade de lixo
aumentou muito no momento em que os comércios iam fechando. Em nenhum instante
nos deparamos com alguma lixeira na rua que demonstrasse o mínimo de interesse
de coleta de lixo e de limpeza do ambiente.
Pode-se notar que por se
tratar de uma quadra que se encontra próximo à aduana paraguaia o fluxo de
pessoas é maior nesta área durante os horários de picos, é possível encontrar
embalagens de produtos eletrônicos, embalagens de roupas e calçados, e até
mesmo lixo orgânico espalhado por toda a rua, como restos de comida, frutas. E
as pessoas agem naturalmente quanto a isso, porque faz parte de sua rotina,
produzindo assim uma quantidade enorme de lixo, que no fim do dia é jogado todo
na rua como mostra as imagens abaixo:
Figura
12:
Rua Camilo Recalde – Paraguai. Fonte:
Maico Dias
Figura
13:
Lixo espalhado na Rua Recalde. Fonte:
Maico Dias
Podemos observar também que
não existe uma ampla rede coletora de esgoto que pudesse abranger toda aquela
área de forma que todos os dejetos que são eliminados sejam destinados a algum
lugar específico de tratamento, pois foi fácil visualizar o esgoto sendo jogado
na rua sem um destino de fato, contando ainda com um odor muito desagradável,
principalmente um odor forte de urina, isso se deve pela quantidade de pessoas
que frequentam aquele lugar todos os dias, e não encontram um banheiro público
se quer. Não existe um sistema de drenagem urbana, a água das chuvas
aparentemente desce para o fundo do vale onde se encontra o rio Paraná, levando
consigo todo o lixo e esgoto que achar pela frente poluindo o rio, uma vez que
do lado paraguaio do Rio Paraná a mata ciliar existente é mínima agravando
ainda mais o problema.
O suporte dado ao comércio
na Ciudad Del Este em termos de infraestrutura é mínimo, outro exemplo de falta
de estrutura é a distribuição de energia elétrica, que é toda irregular do
ponto de vista de segurança, pois os
fios ficam expostos entre meio as lojas
e as pessoas de uma forma perigosa, sem padronização de distribuição elétrica.
A cidade não foi planejada para o fluxo de pessoas que existe. Uma quantidade
de pessoas muito grande transitando naquele ambiente todos os dias torna a
cidade um caos, já que as ruas são muito estreitas e a quantidade de carros é
muita, com uma sinalização de transito muito precária, os guardas de trânsito
tentam amenizar tanta desordem, mas é muito difícil diante de tantos carros,
motos, pessoas comprando, pessoas vendendo.
Figura
14:
Precária situação das ruas. Fonte:
Maico Dias
Figura
15:
Esgoto sendo jogado nas ruas. Fonte:
Maico Dias
É uma área de uso exclusivo
de comércio que não possui nem um tipo de árvore, um local que não apresenta um
alinhamento predial, tornando uma área que também sofre com a poluição visual,
pois os prédios além de serem desalinhados apresentam faixadas desproporcionais
em relação ao tamanho das lojas, em alguns lugares foi possível verificar a
presença de meios fios, mas em sua minoria. As calçadas são praticamente
tomadas por mercadorias dificultando o acesso dos pedestres, forçando-os a
disputarem espaço com os carros no meio da rua, a imagem a baixo destaca bem
poluição visual do lugar.
Figura
16:
poluição visual e o difícil acesso às calçadas. Fonte: Maico Dias
Em um lado da quadra na Rua
Camilo Recalde se caracteriza pelo intenso fluxo em maioria de pessoas, já no
outro lado da quadra na Avenida San Blás é caracterizado pela maior presença de
carros e motos, por se tratar da via que dará acesso a Ponte da Amizade que
liga o Paraguai ao Brasil.
Existe um contraste visual
nessas ruas por que ao mesmo tempo em que vemos lojas pequenas e
desorganizadas, também nos deparamos com lojas grandes e famosas, vindas de
vários lugares do mundo para aproveitar essa área de comércio tão valorizada.
As imagens a baixo ilustram
o contraste visual existente em uma mesma rua, onde existe um grande shopping,
com empresas multinacionais, como por exemplo, Mc Donald, e lojas de roupas
originais como Nike, Adidas entre outras, também existe um comércio de lojas
pequenas com roupas de marcas falsificadas e muitos vendedores de rua.
Figura 17: shopping Mína
Índia. Fonte: Maico Dias
Figura 18:
Comércio de rua. Fonte: Maico Dias
Conclusão
Este
trabalho de campo foi de suma importância por muitos aspectos, tanto como
adicional de experiências pelas visitas do campo, quanto pela recuperação ou
reidentificação da nossa identidade como brasileiros. Afinal este campo indiretamente resgatou esta
identidade na qual estava oculta ao ver a realidade dos outros países, tanto
pelo lado bom se tirarmos parâmetros com o Paraguai, como pelo lado ruim se
comparado com a Argentina.
No
campo ficaram visíveis as grandes diferenças entre os três países nos quais são
separados pela tríplice fronteira, principalmente se comparado com o Paraguai,
pois a desordem organizacional de seu país é bastante visível se comparado com
Brasil e Argentina, principalmente na Ciudad del Leste. Claro que a zona franca ajuda a entender um
dos motivos desta desordem, ficando evidente ao visitarmos o Museu da Terra
Guarani e seu Zoológico que adentrando o território Paraguaio há uma melhora
considerável dessa organização se comparada com a região fronteiriça.
Porém
as estruturas precárias conforme demonstramos na visitação da nossa quadra
deixa claro o caos que se encontra o Paraguai, e com a omissão dessa
organização no território vizinho além da contribuição brasileira na fronteira,
acaba afetando diretamente nosso país. Deixando claro como a fronteira
interfere negativamente em nosso país, pela facilidade que atravessamos a
fronteira pela ponte da amizade, dando exemplos assim que a entrada de produtos
ilícitos assim como armamentos em nosso país é tranquila, além é claro do
depósito diariamente de lixo advindo do Paraguai no Rio Paraná.
Já
comparado com a Argentina em questão organizacional da fronteira estamos anos
luz atrás, nos mostrando na prática a rigidez argentina sobre o controle de
estrangeiros em seu país, com dois membros do grupo barrados na fronteira por
conta da rigidez que os Argentinos impõem sobre a entrada de estrangeiros em
seu território.
Na
prática pudemos sentir assim os conceitos de território abordados neste
relatório, talvez pela falta de uma zona franca na região se comparada com a
região do Paraguai, porém não deixa de ser um ótimo exemplo para o nosso país
copiar esta rigidez e padronizar nossas fronteiras em questão de segurança,
pois mesmo em crise a Argentina não criou nenhuma facilidade para a entrada de
estrangeiros nos últimos anos, e sim a pedido da nossa Federação para a
Federação Argentina que facilitasse a entrada de brasileiros para estes poderem
visitar “Puerto Iguazú” e somente, caso os brasileiros em território Argentino
só contenha como documento a CNH.
E
assim pudemos analisarmos e refletirmos nitidamente as diferenças da tríplice
fronteira envolvendo Argentina, Brasil, e Paraguai, diferenças tanto econômica
e organizacional de seus territórios, como cultural dos mesmos, nos mostrando
com isso se referidos a estes aspectos, as enormes disparidades entre esses
três países. E assim mesmo que indiretamente nossa identidade de brasileiros
ficou bastante nítida nesse campo no qual visitamos nossos países vizinhos, nos
mostrando mesmos com os diversos problemas de nosso país como é bom ser
brasileiro.
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